
“Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...”
Hebreus 12:2
Hebreus 12:2
Imagine um pequeno sinal, erguido em um território quase desconhecido. Não é uma grande construção ou uma cidade completa, mas um marco inicial, indicando uma nova direção e um propósito que começa a surgir.
Assim foi o primeiro culto protestante no Brasil, realizado há mais de quatro séculos e comemorado no dia 10 de março. Embora tenha sido simples e quase esquecido pelos registros antigos, ele marcou a chegada da fé reformada em terras brasileiras.
Esse acontecimento não pode ser visto como um começo calmo e fácil; ele fez parte de um contexto bem mais amplo, cheio de desafios.
Para entendermos melhor, voltemos ao ano de 1557. A região que viria a se chamar Brasil estava em disputa entre várias potências europeias.
Portugal, em processo de colonização, já tinha estabelecido o catolicismo como religião principal. Porém, outras nações, como a França, também buscavam espaço no “Novo Mundo”.
Entre os franceses que desembarcaram aqui, havia um grupo de protestantes chamado “huguenotes”. Eles eram cristãos reformados, principalmente seguidores dos ensinos de João Calvino, e sofriam perseguição na França.
Podemos compará-los a um farol no meio de um mar escuro: o farol não resolve todos os perigos, mas oferece direção e esperança.
Esses huguenotes viviam em uma Europa marcada por conflitos religiosos. Muitos queriam liberdade para viver sua fé e enxergaram na expedição liderada por Nicolas de Villegaignon a chance de começar em outro continente, escapando da opressão religiosa.
No dia 10 de março de 1557, aconteceu algo extraordinário: em um lugar simples na Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro, esses huguenotes realizaram um culto.
Esse momento é considerado o primeiro registro de um culto protestante (com liturgia reformada) nas Américas.
Imagine a cena: poucas pessoas reunidas em meio à colonização, dando voz à sua fé de um modo que ecoaria além daquele instante.
A cerimônia foi modesta e direta. O pastor Pierre Richier conduziu a liturgia. Eles cantaram hinos inspirados no Livro de Salmos, como o Salmo 5 (um pedido para que Deus ouça nosso clamor). Depois, oraram e ouviram a pregação baseada no Salmo 27:4, que expressa o desejo de estar na presença do Senhor.
Era a primeira vez que, num território oficialmente católico pelos colonizadores portugueses, se ouvia uma voz protestante, demonstrando outro jeito de viver a fé cristã.
Porém, o caminho daqueles pioneiros não foi nada fácil. Assim como uma tempestade pode cobrir a luz de um farol, esses protestantes enfrentaram grande oposição.
Villegaignon, que inicialmente os havia tolerado, mudou de postura devido a divergências teológicas e possivelmente pressões políticas. Alguns huguenotes foram expulsos, e outros perseguidos e até mortos.
Entre eles estavam Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon, que morreram por defenderem suas convicções. Tornaram-se exemplos de uma fé que tentava sobreviver em um mundo muitas vezes hostil.
Essa história mostra a complexidade dos inícios. O primeiro culto protestante não foi um ato vitorioso isolado, mas parte de um processo histórico marcado por conflitos de colonização, disputas religiosas e muitos sacrifícios.
Ele nos lembra da perseverança de pessoas que queriam viver sua fé, mesmo em situações adversas.
Como diz uma frase sobre oração: “Ore por forças que se igualem às suas tarefas!” Eles buscaram e encontraram em Deus a coragem necessária para continuar.
Mais tarde, o protestantismo cresceu no Brasil em outros contextos e com a ajuda de outros grupos.
Ainda assim, reconhecer esse primeiro culto é importante. Ele simboliza o desejo de ter a fé reformada plantada em solo brasileiro, como uma semente lançada num terreno que ainda estava se formando.
Hoje, quando vemos a diversidade de igrejas protestantes no Brasil, podemos olhar para esse culto de 1557 como um elo na nossa história.
Ele nos lembra que a busca por Deus e a liberdade de culto têm raízes profundas aqui, mesmo no meio de conflitos e mudanças.
Do mesmo modo que a gratidão transforma nosso modo de ver a vida, esse episódio histórico mostra que, mesmo em meio a adversidades e perseguições, nasceu uma esperança em nossa terra.
Que possamos manter nosso olhar fixo em Cristo, reconhecendo que a história da fé é formada por muitos sinais, inícios e recomeços, sempre buscando paz e justiça para todos.
E que esse “sinal de fé em terra estrangeira” nos motive a ser luz e esperança em nosso tempo, seguindo fielmente o Evangelho, mesmo quando surgem grandes desafios.