1 Coríntios 12.12-31
Introdução
A Primeira carta aos Coríntios foi necessária porque Paulo recebeu um relatório sobre aquela igreja trazido pelos membros da casa de Cloe (1.11).
Parte desse relatório dava conta de um problema: a desordem no culto, fruto da incorreta compreensão sobre os dons espirituais, especialmente o dom de línguas (1 Cor 12.1).
Alguns membros daquela igreja consideravam os dons de línguas superior aos demais. Paulo, então, vai na contramão dessa ideia para dizer que cada membro havia recebido um dom. E cada dom tem sua importância no corpo, de sorte que nenhum tem predomínio sobre os demais.
Num primeiro momento, Paulo tratou de cada dom individualmente. Num segundo, tratou dos dons como um todo (texto de nossa reflexão). Era como se ele tivesse tratado das árvores individualmente, mas agora, ele foca na floresta como um todo.
Para isso, ele usa a metáfora do “corpo”. Por que ele utiliza essa metáfora? Porque na sua mente, a igreja é o corpo de Cristo, sendo Jesus, o cabeça (Ef 1.22-23). Se Cristo é a cabeça desse corpo, aqueles que crêem Nele são os membros desse corpo.
Nesse sentido, tal como um corpo, para que a igreja seja saudável e funcione bem, é necessário que cada membro se comporte de maneira adequada.
Mas a pergunta que vem à baila é: De que maneira cada membro desse corpo deve se comportar para que a igreja funcione bem?
1. Pela consciência de cada membro de sua função
1Co 12:18 Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.
Dois verbos são importantes para nossa compreensão do texto.
O primeiro é: “colocando”. Esse verbo é uma referência à criação. O conceito que Paulo deseja comunicar aqui é que cada membro foi criado foi criado de uma forma particular e para um determinado fim.
E o segundo, “aprouve”. O princípio comunicado aqui é que Deus fez todas as coisas como Ele quis.
Qual é o princípio aprendido a partir da junção desses dois verbos? Deus criou cada membro para uma função e o colocou no corpo conforme o seu desejo.
Quais as implicações a partir desse entendimento?
1. Não somos fruto do acaso. Nossa existência e dons foram minuciosamente planejados e executados por Deus. Uma música antiga do grupo Katesbarnea já dizia: “Eu sou fruto do sonho de Deus”.
2. Se somos fruto do plano de Deus, devemos servi-Lo com nossos dons e talentos e não com aquilo que desejamos. Não poucas vezes, queremos realizar algum serviço que não faz parte de nossas habilidades por mera vaidade. Um exemplo típico disso são pessoas que querem cantar no louvor somente para serem vistas, ou aspiram cargos na igreja para serem notados e glorificadas.
2. Pelo respeito de cada membro à função do outro
1Co 12:21 Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós.
1Co 12:22 Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários;
Conforme aponta Simon Kistemaker, o que Paulo está dizendo é: Se um membro da igreja tivesse recebido o dom de cura, exemplo, não deveria sentir-se auto-suficiente e dizer aos outros membros: “Eu não preciso de você” (KISTEMAKER, 2003, 604).
Qual é o propósito? De um lado, combater a arrogância daqueles que se achavam superiores. De outro, reanimar aqueles que se sentiam inferiores. Todos são, igualmente, necessários (v. 21)
Quais são as implicações dessa orientação?
Se está claro o entendimento de que Deus nos criou e nos colocou estrategicamente no corpo, devemos:
1. Nunca menosprezar o trabalho do outro;
2. Nunca nos considerarmos superiores ou inferiores aos demais;
Porque os dons e talentos não são fruto de nossa maior ou menor capacidade, mas da soberania e graça de Deus em nosso favor.
3. Pela integração de todos os membros no serviço
1Co 12:25 para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.
A exortação de Paulo encontra aqui, seu propósito principal, isto é, não pode haver divisão entre os membros, pelo contrário, um deve trabalhar junto do outro pelo bem do todo.
Note que Paulo insere a expressão “com igual cuidado”. O termo “cuidado” aqui é o mesmo usado por Jesus ao se referir à nossa ansiedade (Mt 6.26 e Mt 6.31).
No conselho de Paulo, essa é uma ansiedade boa. Porque neste caso, cada membro deve estar preocupado em trabalhar em favor do outro. Leon Morris escreve: “No corpo todos os membros, sem distinção, trabalham pelo bem do todo” (MORRIS, 1986, p. 142).
Quais são as implicações dessas palavras?
1. Nosso talento não pode ser usado como trampolim para o sucesso;
2. Precisamos ter a consciência de que o bom êxito de nosso trabalho, depende de nossa integração com o trabalho dos demais. Isto é, não podemos trabalhar, isoladamente.
3. Se há um motivo legítimo de preocupação que deve habitar na nossa mente, é nossa preocupação com a unidade do corpo de Cristo. Quando deixamos de nos preocupar com isso, pode ser um sinal de nossa falta de compromisso com Cristo e seu corpo.
Conclusão
A igreja é um organismo vivo e seu funcionamento é comprovado pela forma como seus membros atuam. A Bíblia nos ensina como esses membros devem proceder. Conforme Paulo ensina, cada membro desse corpo deve:
1. Ter consciência de sua função;
2. Ter respeito à função do outro;
3. Ter integração com os outros membros;
Que Deus faça de nós pessoas conscientes de quem nós somos no corpo e como devemos proceder nele. Que Ele nos capacite a fazer o melhor, respeitar o serviço de nosso irmão, interagir com todos, para a glória de Cristo.
Por Carlos Souza