O texto de Gn 6.9-22 é parte de um contexto maior no qual é relatada a progressão da maldade humana a tal ponto que Deus vê a necessidade de um recomeço (Gn 6.9-9.17). O relato do dilúvio manifesta as consequências finais do pecado e violência humana.
No entanto, surgem algumas pergunta: Diante do anúncio da destruição, o que ocorrerá com a semente da mulher (Gn 3.15)? Seria a maldade humana tão grande que impediria que a promessa feita em Gn 3.15 fosse cancelada?
Respondidas essas questões, surge uma última pergunta: Se nada disso compromete o cumprimento da promessa sobre a semente da mulher, como é possível vislumbrar a pessoa de Cristo no relato do dilúvio? O presente estudo busca responder tais questões.
Tema e objetivo
Partimos do princípio de que Moisés foi quem escreveu o livro de Gênesis no período em que os israelitas se encontravam na peregrinação do deserto. Diante disso qual seria o tema unificador de toda a narrativa? Seria, simplesmente, a condenação para o ímpio e a salvação para o justo (6.9).
Ou ainda, advertência contra o pecado? Certamente esses temas tem uma conotação extremamente moralista. É preciso compreendê-la numa perspectiva de promessa e cumprimento da salvação. Mas como é possível isso?
Pedro em 1 Pe 3.21 enxerga o dilúvio como um tipo de batismo. Um dos significados deste sacramento é purificação ou lavagem dos pecados. (Pergunta e resposta 94 do Breve Catecismo de Westminster). Essa mesma perspectiva é compartilhada pelo salmista quando ele usa o mesmo verbo (desaparecer) de Gn 6.7 para dizer: “Apaga as minhas transgressões” e “apaga as todas as minhas iniquidades” (Sl 51.1,9).
Portanto, apesar do caráter catastrófico do dilúvio, seu objetivo macro é a purificação da terra. Logo, neste novo ambiente, Deus daria prosseguimento ao seu propósito de cumprir com sua promessa a respeito da semente da mulher (Gn 3.15) que destruirá a serpente.
À vista destas coisas, o tema de Gn 6.9-22 pode ser concebido da seguinte forma: Apesar de Deus condenar o mundo, na sua graça, Ele dá condições para a continuidade de seu reino na terra visando o cumprimento de sua promessa.
Diante disso, o objetivo de Moisés ao relatar o dilúvio com o tema acima exibido era encorajar Israel com a mensagem de que Deus, apesar de condenar a impiedade, na sua graça salvará um remanescente de quem procederá o descendente da mulher que esmagará a cabeça da serpente.
Como enxergar Cristo no relato do dilúvio?
Respondidas as questões iniciais, partimos para responder a última pergunta. Como é possível vislumbrar Cristo no relato do dilúvio? É importante que se entenda que para encontrar a pessoa de Jesus em Gn 6.9-9.17 é necessário que leiamos tal relato através das seguintes lentes:
1. PROGRESSÃO HISTÓRICO REDENTORA
Essa ferramenta diz respeito ao modo como a promessa de Deus acerca da semente da mulher (Gn 3.15) se desenvolveu no decurso da história. Neste caso, há três elementos do dilúvio que apontam diretamente para Cristo para sua obra.
São eles:
1.1. Manutenção do ascendente.
Apesar de Deus destruir a terra, Ele guardou Noé. Dessa forma, o Senhor manteve intacta a linhagem da qual procederia Cristo (Lc 3. 36.
1.2. Juízo no calvário.
Apesar de Deus destruir a terra, Ele guardou Noé. Dessa forma, o Senhor manteve intacta a linhagem da qual procederia Cristo (Lc 3. 36.
1.2. Juízo no calvário.
Assim como Deus executou seu juízo contra o pecado através do dilúvio, da mesma forma, Ele julgou as iniquidades em Cristo na cruz do Calvário (Is 53.4-6; Rm 8.3; Gl 3.13).
1.3. Juízo final.
O juízo de Deus através do dilúvio, igualmente aponta para aquele último que ocorrerá por ocasião do regresso de Jesus (Ap 20.11-15).
O juízo de Deus através do dilúvio, igualmente aponta para aquele último que ocorrerá por ocasião do regresso de Jesus (Ap 20.11-15).
2 - PROMESSA E CUMPRIMENTO.
Deus prometeu e salvou aquele de quem viria o Messias. Dessa forma, a ancestralidade de Cristo estava salvaguardada pelo Deus da promessa (Gn 6.17,18; 8.17).
Deus prometeu e salvou aquele de quem viria o Messias. Dessa forma, a ancestralidade de Cristo estava salvaguardada pelo Deus da promessa (Gn 6.17,18; 8.17).
3 - TIPOLOGIA
Jesus é encontrado em Gn 6 considerando a pessoa de Noé, bem como o próprio dilúvio como um ato de juízo e as águas como imagens que prefiguravam a Cristo. Vejamos:
3.1. Quanto à Noé.
Era homem justo e íntegro (Gn 6.9). Alguém que “andava com Deus” (Gn 6.9), que obedecia sem questionamentos (Gn 6.22; 7.5,9,16) e finalmente, por meio de quem Deus estabeleceu um novo começo. Todos esses atributos são vistos em Cristo de forma absolutamente superior. Ele não pecou (1 Pe 2.22), foi obediente até o fim (Fp 2.8) e por meio de quem o homem renasce para uma nova vida (2 Cor 5.17). Enfim, por meio de Cristo, Deus estabelece “novos céus e nova terra” (2 Pe 3.13).
Era homem justo e íntegro (Gn 6.9). Alguém que “andava com Deus” (Gn 6.9), que obedecia sem questionamentos (Gn 6.22; 7.5,9,16) e finalmente, por meio de quem Deus estabeleceu um novo começo. Todos esses atributos são vistos em Cristo de forma absolutamente superior. Ele não pecou (1 Pe 2.22), foi obediente até o fim (Fp 2.8) e por meio de quem o homem renasce para uma nova vida (2 Cor 5.17). Enfim, por meio de Cristo, Deus estabelece “novos céus e nova terra” (2 Pe 3.13).
3.2. Quanto ao dilúvio.
O juízo através do dilúvio, semelhantemente, ilustra a pessoa de Cristo. Se por um lado, Cristo suportou em seu próprio corpo o juízo de Deus dos pecados dos eleitos, por outro, ele mesmo será aquele que, em seu juízo salvará a uns e condenará a outros (Mt 25.31-32).
O juízo através do dilúvio, semelhantemente, ilustra a pessoa de Cristo. Se por um lado, Cristo suportou em seu próprio corpo o juízo de Deus dos pecados dos eleitos, por outro, ele mesmo será aquele que, em seu juízo salvará a uns e condenará a outros (Mt 25.31-32).
3.3. Quanto às águas.
Pedro relaciona as águas do dilúvio com o batismo em 1 Pe 3.20,21. Segundo o entendimento protestante, o batismo é um sinal e selo da graça de Deus por meio de Cristo (CFW 28.1). Ao afirmar que ele (o batismo) “vos salva”, Pedro tem em mente a estreita relação entre o que ele significa e sua realidade (Mc 16.16).
Para Pedro, a salvação de Noé das águas ilustrou as águas do batismo porque água usada neste sacramento simboliza por um lado, o juízo sobre o pecado em Cristo, por outro a renovação de vida (Rm 6.4). O dilúvio, por sua vez, representou o juízo por causa dos pecados, por outro, a salvação de Noé e sua família.
Pedro relaciona as águas do dilúvio com o batismo em 1 Pe 3.20,21. Segundo o entendimento protestante, o batismo é um sinal e selo da graça de Deus por meio de Cristo (CFW 28.1). Ao afirmar que ele (o batismo) “vos salva”, Pedro tem em mente a estreita relação entre o que ele significa e sua realidade (Mc 16.16).
Para Pedro, a salvação de Noé das águas ilustrou as águas do batismo porque água usada neste sacramento simboliza por um lado, o juízo sobre o pecado em Cristo, por outro a renovação de vida (Rm 6.4). O dilúvio, por sua vez, representou o juízo por causa dos pecados, por outro, a salvação de Noé e sua família.
4 - ANALOGIA
É possível verificar a semelhança do evento do dilúvio com Cristo tendo em mente o objetivo de Moisés ao escrever esse episódio. Conforme verificamos, Moisés escreveu com o propósito de “encorajar Israel com a mensagem de que Deus, apesar de condenar a impiedade, na sua graça salvará um remanescente de quem procederá o descendente da mulher que esmagará a cabeça da serpente”.
Jesus, semelhantemente, exorta seus ouvintes de que o Filho do Homem julgará a muitos, em contrapartida, salvará o remanescente fiel (Mt 24.37-41). Em outras palavras, o juízo virá para os ímpios, assim como o livramento para os fiéis. Sendo esta, a mesma dinâmica ocorrida no evento do dilúvio.
5. TEMAS DERIVADOS
É também possível vislumbrar a pessoa de Cristo em Gn 6-9 a partir dois temas, a saber, recomeço e aliança.
5.1. Recomeço Por meio de Noé (o remanescente) Deus estabelece um novo recomeço, fazendo com Noé uma aliança (Gn 9.1-19). O mesmo pode ser verificado em Cristo, uma vez que através Dele, o homem poderá desfrutar de um novo recomeço. Tanto a partir de seu novo nascimento (Jo 3.3-6), como por ocasião da segunda vinda de Jesus (Ap 21, Rm 8.21).
5.2. Aliança.
Na ocasião da saída da arca Deus prometeu nunca mais ferir a terra com águas (Gn 9.11). Essa aliança conduz à “eterna aliança” que é feita por meio do sangue de Cristo (Hb 13.20) o qual sustenta todas as coisas pela sua palavra (Hb 1.3; Cl 1.17). Em Cristo, portanto, há a garantia de que a criação não será destruída, o que culminará em sua redenção conforme visto acima.
Na ocasião da saída da arca Deus prometeu nunca mais ferir a terra com águas (Gn 9.11). Essa aliança conduz à “eterna aliança” que é feita por meio do sangue de Cristo (Hb 13.20) o qual sustenta todas as coisas pela sua palavra (Hb 1.3; Cl 1.17). Em Cristo, portanto, há a garantia de que a criação não será destruída, o que culminará em sua redenção conforme visto acima.
Conclusão
O dilúvio, causado pela maldade, poderia ser uma ameaça em relação à promessa sobre a semente da mulher (Gn 3.15). No entanto, o dilúvio, ainda que tenha sido uma manifestação de juízo, Deus conservou para si um representante, Noé.
Deste, procederá Jesus, a semente da mulher que esmagará a cabeça da serpente. Podemos contemplá-lo no relato do dilúvio através da relação com juízo, com Noé, com o recomeço e com a aliança após o dilúvio.
Por Carlos Souza
Deste, procederá Jesus, a semente da mulher que esmagará a cabeça da serpente. Podemos contemplá-lo no relato do dilúvio através da relação com juízo, com Noé, com o recomeço e com a aliança após o dilúvio.
Por Carlos Souza
Referências Bibliográficas
BÍBLIA DE ESTUDO DE JERUSALÉM. São Paulo, Barueri. Cultura Cristã, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER. São Paulo, Cultura Cristã, 2003.
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo, Cultura Cristã, 2003.
GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis. Fundamentos para sermões expositivos. São Paulo Cultura Cristã, 2009.