Miss. Madalena Gomes
E, estando ele em Betânia assentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro, com unguento de nardo puro, de muito preço e, quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça - Marcos 14:3-8 (1)
Fico imaginando esta cena.
Era dia de festa, e numa festa, temos muita alegria, risadas, música, estórias sendo contadas e claro, não pode faltar comida... muita comida!
O texto nos diz que a festa era na casa de Simão, designado, o leproso. Diz-nos ainda o texto que Simão havia sido curado de sua lepra e por certo estava sendo restituído ao convivo de sua casa, de sua família e amigos após quem sabe, vários anos de isolamento da sociedade, escondido em cavernas.
Podemos imaginar a grande celebração e mesmo a curiosidade de muitos que estavam ali para certificarem-se do milagre ocorrido. E lá, participando da grande festa, testificando a cura e a restauração de Simão, estavam Jesus e seus discípulos – todos reclinados à mesa, numa alegria contagiante, esperando pela comida!
Do outro lado da casa, quem sabe numa cozinha improvisada no quintal, estavam as mulheres, ocupadas com todo o trabalho de prepararem comida para todos. Umas iam com seus baldes ao poço buscar água, outras buscavam lenha para alimentar o fogo e outras ainda se ocupavam das grandes panelas.
Embora esta cena tenha se passado há mais de dois mil anos, não é diferente do que vejo no dia a dia das famílias africanas, e porque não dizer, também em nossa cultura. Ainda hoje é exatamente assim. As mulheres trabalham pesadamente para prepararem a comida, enquanto os homens, reclinados à mesa, esperam para serem servidos.
E não diferente daquele tempo, também hoje, deparo-me com a realidade de ver as mulheres servindo... servindo seus maridos, suas famílias, suas comunidades e mais que tudo servindo ao Senhor.
Seja numa cultura um pouco menos conservadora como a nossa, onde nós mulheres já temos encontrado um espaço um pouco maior na sociedade, ou em outras culturas, onde ainda há um longo caminho a ser trilhado para que a mulher seja considerada até mesmo como um ser humano, portanto digna de respeito e apreço, ver a alegria do coração feminino no submisso serviço que prestam à sociedade e ao Reino de Deus deveria ser motivo de louvor.
Como aquela mulher em Betânia que não deixou que o peso do julgamento e da condenação de um mundo dominado por homens a impedisse de primeiro, vencer a barreira cultural de entrar naquela sala e se achegar tão perto do Senhor Jesus ao ponto de poder tocá-lo; e, segundo, de sozinha, tomar a decisão de usar a sua herança como bem entendesse... como nos diz o texto, derramando tudo sobre a cabeça de Jesus – um desperdício, segundo a opinião de alguns presentes (v 4-5).
Eu continuo imaginando aquela cena, agora pensando em Maria.
Penso em seu coração amedrontado ao ouvir as palavras condenadoras dos homens naquela sala, e porque não dizer, até mesmo de algumas mulheres, que tão acostumadas estão com o seu lugar na “cozinha” nem sequer ousam aceitar que outras mulheres possam tentar sair dali.
Penso também em sua atitude ousada de agir segundo a sua fé, seguindo o seu coração, sem se importar com o status quo da sociedade em que vivia. Penso em sua alegria em ouvir as palavras louváveis de Jesus sobre sua atitude: “...ela fez-me boa obra... Esta fez o que podia; antencipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura”(v 6b,8).
E como o próprio Jesus declarou, ainda hoje em todas as partes do mundo onde o Evangelho é pregado, a sua ousada atitude é e será sempre lembrada e contada (v 9).
Não há dúvida de que esta Maria está entre as tantas mulheres que através dos tempos, tem aprendido que a forma de submissão imposta por nossas culturas contaminadas pelo pecado, não nos impede de sermos ousadas em buscarmos nosso lugar no serviço ao Senhor, seja no lar, na igreja local ou no campo missionário em qualquer lugar do mundo.
Ao meditar na atitude ousadamente extravagante de Maria para demonstrar seu amor ao Senhor Jesus, e ao pensar em meu próprio serviço e nas muitas mulheres que tenho tido o privilégio de conhecer nas igrejas que visito, nas conferências de treinamento na África; sinto uma imensa alegria pela minha própria ousadia em ter aceitado o chamado de meu Mestre para servi-lo onde estou e no trabalho que Ele me chamou para fazer em detrimento das dificuldades, e ouso dizer, pelas desigualdades encontradas pelo caminho.
Hoje ainda, a atitude de Maria, continua abrindo o caminho para nós mulheres, convidando-nos a decididamente ultrapassarmos quaisquer barreiras que nos tentem impedir de chegarmos mais perto do Senhor para assim, servirmos à Ele e ao Seu Reino!
Eu quero ser ainda mais, mulher decidida e ousada em meu chamado e serviço ao Senhor.
E você?
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Madalena Gomes é membro da Igreja Presbiteriana do Caminho em Londrina, formada em Teologia com ênfase em missões pelo ISBL Faculdade de Teologia de Londrina e em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). É missionária desde 1998, servindo pastores e líderes dos países de língua portuguesa na África através da CRM Empowering Leaders. Madalena mora em Pretória, África do Sul. (clique para entrar em contato)