Dilemas


Uma palavra que nem sempre é empregada corretamente quanto ao seu significado é a palavra Dilema.

Ouvem-se frases como esta: estou num dilema, não sei se vou a São Paulo de carro ou de ônibus. Aí não há nenhum dilema. É um simples caso de escolha, de opção. Qualquer que seja a decisão o problema se resolve satisfatoriamente.

Dilema é palavra de origem grega, formada com o radical Di que significa dois e com o radical Lema que significa decisão. Então dilema é uma situação que apresenta duas decisões contraditórias. Qualquer que seja a decisão será sempre desfavorável.



Exemplo clássico de dilema, é a estória de um advogado que ensinou, a um moço a arte de advogar.

Ao final do curso o moço perguntou ao mestre quanto lhe devia. Nada, disse o mestre, por enquanto. Quando você defender sua primeira causa então nós acertaremos as contas. Se você ganhar a causa você me pagará tanto, se você perder a causa não me pagará nada. 

O tempo passou e o moço não pegava nenhuma causa para defender. O mestre, precisando de dinheiro, levou o moço aos tribunais para que ele tivesse uma causa para defender. O moço então teve sua primeira causa, sua própria causa. 

O mestre o procurou e lhe disse - agora você me paga de qualquer modo. Se você perder a justiça o fará pagar, se você ganhar, pelo nosso trato, você terá de me pagar. 

Nada disso, disse o moço. Se eu perder, pelo nosso trato, nada lhe devo e se eu ganhar a justiça me desobriga de qualquer pagamento. 

O dilema é um verdadeiro "beco sem saída". Um indivíduo comprou um carro financiado pelo banco. Vencido o prazo não tinha dinheiro para pagar o banco. Pensou: vendo o carro, pago o banco... e fico sem carro. Não vendo o carro, não pago o banco, o banco me toma o carro... e fico sem carro!

Uma vez alguns escribas e fariseus armaram uma cilada para Jesus. Ele pregava o evangelho do amor, do perdão, mas era judeu, tinha que observar a lei de Moisés.

 Levaram à presença de Jesus uma mulher apanhada em flagrante ato de adultério. Com certeza estavam convencidos de que o caso era um verdadeiro dilema para Jesus. 

Mestre, disseram, esta mulher foi apanhada no próprio ato adulterando. Moisés diz que ela deve ser apedrejada, e o senhor o que é que diz. Agora ele não tem escape. Se ele disser que ela deve ser apedrejada, perguntaremos, onde está o amor que anda pregando. Se disser que ela não deve ser apedrejada perguntaremos, onde está a obediência à lei de Moisés. 

Jesus percebendo a maldade da pergunta, faz de conta que o caso não era com ele, simulou escrever alguma coisa no chão e, diante da insistência dos "inimigos" levantou a cabeça, olhou bem para eles e disse: aquele que estiver sem pecado pode atirar a primeira pedra. 

Abaixou- se novamente por alguns instantes, levantou a cabeça e não viu mais ninguém. Então perguntou à mulher: ninguém te condenou? 

Não, Senhor, respondeu a mulher. Jesus lhe disse então: nem eu te condeno, vai e não peques mais.

Que lição maravilhosa. Jesus recebeu a mulher pecadora no presente, perdoou o seu passado e lhe fez uma advertência para o futuro. Esse é o seu método de agir com as pessoas. Os escribas e fariseus enfrentaram, eles sim, um dilema. 



Se não atirarmos pedras, desobedecemos a lei de Moisés, mas para atirarmos pedras, devemos estar sem pecados - e quem está? É o caso de se aplicar a eles o dito popular: o feitiço virou contra o feiticeiro, ou então este outro: foram buscar lã e saíram tosquiados.

Outra vez trouxeram a Jesus outro "dilema": é lícito ou não, pagar tributo a César? Se ele disser que não é lícito, afronta o imperador; se disser que é lícito afronta o sentimento nacionalista dos judeus. 

Tragam-me uma moeda, pediu Jesus. Trouxeram-lhe a moeda. De quem é esta efígie (cara) e esta inscrição? , perguntou- lhe Jesus. Responderam: É de Cesar.

Então Jesus responde: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, numa alusão clara à falta de autenticidade na prática dos deveres espirituais por parte dos escribas e dos fariseus.

Para se sair bem de um dilema é preciso muita sabedoria e isso Jesus tinha de sobra.

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