Neste capítulo discutiremos dois movimentos diversos. Um deles é a decadência da Igreja que por vários séculos representou o Cristianismo na Europa ocidental.
O outro foi o ressurgimento de novas forças e organizações as quais representaram muito mais fielmente o Cristianismo.
I. AS CONDIÇÕES POLÍTICAS
O aumento do poder nacional
Vimos como, pelo meado do século XIII, o papado venceu o seu grande rival, o Império Germânico, também conhecido como o Santo Império Romano.
Jamais este Império se tornou tão forte como dantes. Mas na última parte da Idade Média, a França e a Inglaterra desenvolveram-se grandemente.
Cada um desses povos uniu-se internamente e fortificou-se cada vez mais, em virtude de uma série de governos sábios e fortes que surgiram em ambas as nações.
Cada uma delas tinha um alto senso de independência nacional e ressentia-se de qualquer interferência estrangeira nos seus negócios.
E os povos germânicos, que embora só muito mais tarde conseguissem seu governo nacional, começaram igualmente a desenvolver um forte espírito nacionalista.
Quando chegarmos ao estudo da Reforma, verificaremos que este movimento, em um de seus aspectos, foi uma revolta de algumas das grandes nações do oeste da Europa contra o domínio da Igreja exercido sobre essas nações por um estrangeiro, o papa.
No período abrangido por este capítulo, desenvolveu-se esse forte espírito nacionalista que depois, sacudia o jugo da Igreja e a sua organização.
II. ONDE A IGREJA MEDIEVAL FALHOU
No capítulo IX consideramos alguns benefícios prestados pela igreja medieval e vimos como, no seu tempo, ela foi de certo modo um instrumento indispensável no reino de Deus, apesar dos pesares.
Examinaremos agora algumas das grandes falhas da igreja papal que, piorando ainda mais durante este período, provou que já tinha chegado ao fim da sua utilidade, como se apresentava nessa época.
A – A CORRUPÇÃO DO CLERO
Causas da corrupção
A igreja falhou ruinosa e vergonhosamente na queda do caráter do seu clero. Podemos notar duas causas dessa queda. Aquilo que por certo tempo era a grandeza dessa igreja, tornou-se um motivo de fraqueza, isto é, a tremenda autoridade do sacerdócio.
Tais privilégios e poderes sobre os homens, exercidos pelo clero, especialmente pelo alto clero, não deixaria, afinal, de prejudicar o seu caráter, a vida espiritual desse clero. Igualmente prejudicial foi a enorme riqueza pertencente à Igreja usufruída pelo seu clero, particularmente pelos elementos da alta hierarquia.
Egoísmo e avareza
Em virtude desses dois fatores, excesso de autoridade e riquezas excessivas, o egoísmo dominou a vida da maioria do clero. Extremaram-se os clérigos no zelo e guarda dos seus privilégios legais e sociais, Fizeram do dinheiro o seu grande objetivo.
Muitos deles eram "pluralistas", isto é, exerciam dois ou mais ofícios eclesiásticos e aumentavam suas rendas, muitas vezes alugando substitutos aos quais pagavam mal, para fazerem os trabalhos que eles próprios não podiam fazer.
Por meio da simonia que crescera muito mais, não obstante a luta de alguns reformadores desse tempo, eram obtidos lugares importantes e rendosos.
Sinecuras, posições rendosas sem trabalho, eram objeto de especulação entre eles. A avareza era muito pior no alto clero. A cobiça, a extorsão, a violência dos bispos eram um escândalo notório.
Imoralidade
IA imoralidade também estava generalizada. Não vale a pena "revolver cloacas". É bastante dizer que, principalmente nesse período da Idade Média, a embriaguez, a glutonaria e a mais baixa impureza sexual eram extraordinariamente comuns dentro do clero.
A literatura da época é cheia de ataques a todos os vícios do clero. Quanto a esses males, os exemplos dos bispos eram péssimos.
Essa degradação do clero aprofundou-se ainda mais através dos séculos XIV e XV, até que a Europa explodiu de indignação e ódio contra tais falsos representantes de Deus.
O secretário do papa Benedito XIII, disse desses clérigos: "Raramente encontra-se um, em mil, que faça honestamente o que a profissão exige".
As ordens monásticas resistiram a essa queda moral por algum tempo. Mas foram atingidas afinal; e vemos com tristeza, monges e freiras, objetos do escárnio público, por causa dos seus próprios vícios.
Até mesmo as ordens dos Mendicantes, as últimas a se organizarem, trabalhadas finalmente pela degeneração que prevalecia, caíram, embora mantivessem algumas missões heróicas. Em ambas as ordens havia partes corrompidas e partes que se mantinham fiéis aos primitivos ideais.
B - A DEGRADAÇÃO DA RELIGIÃO
Outro grande motivo de aviltamento da igreja papal foi o ensino de uma forma adulterada do Cristianismo.
Essa igreja permitiu que o Evangelho fosse substituído por uma religião de ritos sacramentais que outorgavam uma salvação mágica; orações aos espíritos bondosos da Virgem e dos santos; medo injustificado dos maus espíritos; relíquias milagrosas; vestimentas aparatosas; maldições e absolvição dos sacerdotes.
O protesto contra tudo isto apareceu nesse período, lançado pelos dissidentes que apareceram primeiramente no século XI. A pregação, a princípio realizada pelos mendicantes, foi um esforço desses homens espirituais para darem ao povo alguma cousa melhor que não havia na sua igreja.
Mas a igreja, de um modo geral, nada aprendeu. À proporção que a Idade Média se aproximava do fim, não se verificava qualquer esforço da parte da Igreja no sentido de purificar seu culto.
C - O POVO ABANDONADO
Negligência dos deveres ministeriais
Uma terceira grande causa do fracasso da igreja medieval foi o ter se descuidado do povo sob sua responsabilidade, em virtude de o clero, cujo caráter já descrevemos, ter fugido quase inteiramente aos seus deveres.
Raramente os bispos inspecionavam as igrejas sob seus cuidados. Os párocos davam-se por satisfeitos com o que prescrevia o ritual latino, o qual nem o povo e muitas vezes nem os padres mesmos entendiam.
Raríssimos eram os que pregavam e visitavam os seus paroquianos. O povo só raras vezes ouvia os sermões dos frades franciscanos e dominicanos.
Falta de assistência religiosa para as cidades que cresciam
Essa época é caracterizada pelo tremendo descaso da Igreja para com o povo. As cidades da Europa cresceram muito rapidamente no século XII, como muitas das atuais cidades das Américas.
Dirigida por um clero negligente e egoísta, a igreja papal falhou tristemente em atender às necessidades espirituais desses novos centros populosos.
Não cuidaram de organizar novas igrejas e de preparar sacerdotes para as cidades. Em muitas delas, cheias de imundície e de ignorância, milhares de pessoas pobres viviam sem assistência cristã do corpo e da alma.
O que a igreja oferecia ao povo
Dois fatos já mencionados devem ser fixados: o primeiro era o caráter e o exemplo do clero. Outro, era o tipo ou natureza da religião que a igreja ministrava.
Ao povo necessitado do Evangelho ela oferecia um grande sistema de superstição, administrado por um sacerdócio mundano e corrupto.
Essa igreja não tinha outro remédio além deste, ao fim da Idade Média, para a ignorância e maldade, para a miséria física e espiritual que enchiam a vida da Europa.
Por Robert Hastings Nichols
ÍNDICE
ÍNDICE
A preparação para o Cristianismo
01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo
A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100
A Igreja antiga (100 - 313)
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)
A Igreja antiga (313- 590)
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)
A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073)
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja
A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294)
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13a - Inocêncio III
13b - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental
Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)
23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma
Revolução e reconstrução (1517 - 1648)
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria
A era da Reforma (1517 - 1648)
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
O cristianismo na Europa (1648 - 1800)
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929