8 – A VIDA CRISTÃ SOB O DOMÍNIO DA IGREJA
Vamos agora considerar o tipo de caráter e de conduta que este grande sistema religioso produziu na sociedade.
Devemos observar dois fatos importantes: primeiro, o cristianismo, isto é, a poderosa, influência cristã de muitos homens e mulheres de vidas santas e notáveis, aos quais a igreja cristã ainda honra. Segundo, o tipo de cristianismo, ou melhor, de vida religiosa do povo em geral.
A vida cristã de alguns líderes religiosos: Bernardo
Como representantes do Cristianismo medieval, na sua mais alta expressão, tomemos como exemplos Bernardo de Claraval, Domingos e Francisco de Assis. Bernardo (1090-1153) procedeu de uma nobre família da Borgúndia.
Seu pai era considerado um dos maiores expoentes daquele espírito de cavalaria da Idade Média.
Homem valoroso, amigo dos pobres e desamparados. A mãe de Bernardo era uma santa mulher de caráter profundamente cristão. Na casa dessa nobre família havia um ambiente de fé e bondade.
Todos os filhos foram criados nessa atmosfera em que Deus habitava. Bernardo tinha um físico muito fraco para a vida da cavalaria e em casa mostrava um zelo religioso fora do comum.
No seu tempo era natural quê se tornasse monge, o que fez aos 22 anos de idade. Desde moço revelou as qualidades que tornaram sua vida memorável. Levou consigo para o mosteiro todos os irmãos e mais trinta companheiros.
Para um homem da sua natureza e do seu entusiasmo, a vida monástica era um ideal irresistível. Provou a legitimidade da sua congregação, entrando para o mosteiro de Citeaux, quando poderia ter entrado em outros de vida confortável.
Em Citeaux as regras eram por demais severas: “Uma refeição por dia, sem carne, peixe ou ovos; poucas horas de sono, orações até meia noite e duros trabalhos nos campos". Tudo isso ainda não satisfazia o entusiasmo de Bernardo.
Impôs a si mesmo muitas outras penitências que prejudicaram permanentemente a sua saúde. Dois anos mais tarde chefiou um grupo de monges para fundar outro mosteiro num vale quase inacessível, ermo, no leste da França.
Ali. construíram um barracão do qual surgiu a famosa Abadia de Claraval. Atraídos pela presença de Bernardo, muitos homens vieram para o mosteiro, alguns deles das famílias mais nobres.
Seu mosteiro prosperou extraordinariamente. Muitas pessoas que não desejavam ser monges frequentavam, por certo tempo, o mosteiro, somente para terem contacto com Bernardo.
Tanto sobre os monges como sobre todas as pessoas que dele se aproximavam, Bernardo exercia uma influência maravilhosa, por sua personalidade e por causa das suas pregações diárias na capela do Mosteiro.
Pode-se dizer que o segredo desta Influência era o seu grande amor aos homens e, sobretudo, a Deus. Era dotado de excepcional simpatia pelas necessidades humanas, o que se verifica pela leitura das suas cartas, ainda hoje conservadas.
Era dotado de uma ardente consagração a Deus e a Jesus Cristo, vendo no Filho de Deus a mais alta expressão do amor divino. Isto verificamos em muitos dos seus hinos ainda hoje entoados em muitas igrejas cristãs.
A influência desse homem transpôs as fronteiras de Claraval. Vimos no último capítulo seus grandes serviços prestados à vida monástica. Mas seu poder não se limitava às paredes do convento.
Não é exagero afirmar que na primeira metade do século XII, este monge semi-inválido, sem outro ofício que o de abade de Claraval; sem riquezas nem exércitos, foi o homem mais influente da Europa. Isto foi devido unicamente à pureza e à força do seu caráter.
Toda a sorte de gente procurava ouvir os seus conselhos a respeito dos mais variados assuntos e problemas, fossem grandes ou pequenos; e tais conselhos sempre resultavam eficazes.
Por meio de cartas, francas e resolutas, chegou a reprovar papas e reis pela negligência dos deveres nos seus respectivos cargos.
Quando a Europa estava em confusão por causa da disputa de dois homens que pretendiam ser o legítimo papa, sua opinião foi solicitada pelo reis e prelados da França, e sua decisão foi aceita por todo mundo.
Quando o papa Eugênio IV proclamou a segunda cruzada, pôs sobre os ombros de Bernardo a tarefa de convocar os homens para que assumissem a direção da grandiosa empresa.
Na França e na Alemanha sua pregação despertou enorme entusiasmo para a guerra chamada santa. O imperador tinha decidido ficar no país, mas ouviu a pregação de Bernardo, ele, o imperador, tomou a Cruz.
Foi assim que Bernardo veio a ser o dirigente espiritual da cristandade. Não obstante, por toda a sua vida, permaneceu humilde e pobre, sem nada ambicionar para si próprio. [1]
Domingos
Não muito depois da morte de Bernardo nasceu um grande espanhol cujo nome era Domingos (1170-1221). Possuía ele grande cultura universitária quando se tornou sacerdote, mas sua vida verdadeiramente operosa manifestou-se mui vagarosamente.
Já passando dos trinta anos, viajou pelo sudeste da França e ali viu o efeito da chamada heresia albigense.
Uma mistura de verdade e de erro, e que tinha provocado uma deserção generalizada de muitos elementos da igreja. Viu também o começo da guerra terrível com a qual os papas tentavam esmagar a heresia.
Tudo isso o impressionou profundamente e lhe mostrou que a época estava tremendamente necessitada da pregação da verdade cristã. Era assim que ele viu o único meio de se acabar com a heresia.
Como planejou sua ordem
Por fim concebeu o plano de organização da sua companhia de pregadores que devia viajar por toda a parte ensinando o povo.
Quando tinha quarenta e cinco anos conseguiu de Inocêncio III a aprovação do seu plano, e imediatamente organizou a ordem. Seu projeto encontrou grande simpatia e entusiasmo entre os moços do seu tempo, o que prova que ele conhecia a grande necessidade da época. A ordem cresceu aos saltos, de uma maneira extraordinária.
Dentro de quatro anos de trabalho ativo, cerca de vinte mosteiros de frades dominicanos foram estabelecidos em vários países da Europa, e a obra desses frades (irmãos) espalhou-se por todos os recantos.
O desenvolvimento da ordem
Inflamado de zelo, Domingos viajou por toda a parte pregando e alistando novos candidatos. Desde que seu plano exigia pregadores experimentados, procurou interessar particularmente os estudantes universitários, dos quais alcançou grande número.
Desejou intensamente ir como missionário trabalhar entre os tártaros, pagãos que habitavam o sul da Rússia. Mas esgotado por trabalhos excessivos, morreu apenas quatro anos após enviar os primeiros frades, deixando a ordem bastante crescida e solidamente organizada.
Domingos não foi dotado do maravilhoso magnetismo do seu contemporâneo Francisco de Assis, contudo, por sua própria sabedoria, força de vontade, entusiasmo e seu gênio organizador, criou uma das melhores e mais poderosas organizações religiosas da Idade Média.
Francisco de Assis
Dentre os líderes religiosos da Idade Média, Francisco de Assis é hoje o mais honrado e amado por toda a igreja cristã. Cristãos de todos os nomes sentem-se inspirados com a vida deste homem que tão fielmente seguiu a Jesus Cristo.
Francisco (1182-1226) era filho de um comerciante de Assis, na Itália central. No meio de uma mocidade desregrada e indiferente foi atingido por séria moléstia que fez voltar seus pensamentos para Deus. Seu despertar religioso manifestou-se imediatamente em serviços de amor ao próximo.
Outrora extravagante nos seus prazeres, mostrava-se agora pródigo em suas dádivas aos necessitados. Dedicou-se especialmente à caridade entre as pessoas mais infelizes daquela época, os leprosos, dispensando-lhes cuidado pessoal e amizade.
Restaurou também algumas igrejas em ruínas, expressando desse modo seu grande desejo de servir a Deus. Todavia ainda não tinha feito o trabalho que Deus lhe reservara.
O pai zangado por causa das esmolas pródigas do filho procurou interná-lo como louco, num hospício. Francisco então renunciou a qualquer pretensão à herança paterna e saiu pelo mundo como mendigo.
Sua vocação para o serviço
Pouco depois, assistindo a um serviço religioso numa capela perto de Assis, ouviu o sacerdote lendo uma parte do capítulo 10 de S. Mateus, onde se descreve a cena em que Jesus envia os seus discípulos a pregar.
Entendeu que aquilo era como uma chamada de Cristo, a que imediatamente obedeceu. Embora leigo, foi à cidade e começou a pregar.
Desde então e por toda a sua vida, ministrou com excelentes resultados o ensino mais simples e o cristianismo mais prático, com o poder da sua consagração e da sua personalidade atraente e vigorosa.
A organização da fraternidade
Em pouco tempo dois homens da cidade de Assis, tornaram-se seus companheiros. Isto sugeriu-lhes a organização de uma fraternidade que vivesse como eles viviam, a serviço do próximo, no espírito de Cristo, e em pobreza. Apareceram alguns outros discípulos e foi organizada a fraternidade.
No primeiro ano (1209-1210) Francisco e seus companheiros levaram a termo uma missão evangelística às regiões remotas da Úmbria. O grupo continuou a crescer, reunindo elementos de Assis e das vizinhanças.
Eram diferentes dos dominicanos, porque esses primeiros franciscanos, na maioria, não eram bastante instruídos. Depois dessa primeira obra da fraternidade, Francisco foi a Roma com alguns dos seus companheiros e obteve de Inocêncio III parcial aprovação dos objetivos do seu grupo.
A obra dos franciscanos
A capela onde Francisco sentiu sua chamada foi-lhe concedida para sede da fraternidade. Ao redor dela foram construídos rudes abrigos para os irmãos. Raras vezes, porém, ali permaneciam, pois levavam todo o tempo a viajar, servindo o povo, segundo a ordem expressa e o exemplo de Jesus.
Pregavam nos campos enquanto os trabalhadores descansavam; nos mercados, feiras, vilas, cidades, onde quer que encontrassem uma oportunidade. Auxiliavam os necessitados de toda a natureza, especialmente os leprosos.
Não tinham dinheiro para dar, pois a pobreza era parte essencial das suas vidas; todavia prestavam serviços especiais e cuidados pessoais.
A missão deles não era somente a de pregar, como a dos, dominicanos, mas uma espécie de ministério múltiplo que atendesse a todas as necessidades humanas, inclusive a pregação ou assistência espiritual.
Mantinham-se com os trabalhos que faziam, e quando não podiam fazê-lo, recorriam às esmolas. Daí a razão por que, tanto eles como os dominicanos, que logo começaram a adotar os métodos dos primeiros, eram conhecidos como mendicantes ou Ordens de Mendicantes.
Um característico notável desses primeiros franciscanos foi a excepciona alegria, a satisfação de que se achavam possuídos, e que lhes foi inspirada, por Francisco.
Para ele e seus companheiros ungidos do mesmo ideal, uma vida de serviço ao próximo e de pobreza por amor a Cristo não constituía um sacrifício, mas um motivo de alegria. Tudo era feito num espírito de consagração e de obediência a Jesus, de amor para com os homens, alegria e desapego ao mundo.
Nunca houve, então, maior empenho de imitar a Cristo, ou maior revelação de fé nele e mais prontidão em cumprir suas ordens divinas, do que o revelado por Francisco de Assis e esses primeiros franciscanos.
Crescimento da obra franciscana
A fraternidade se desenvolveu rapidamente para além das fronteiras do país. Quando se reuniu o segundo capítulo geral, em 1217, havia irmãos franciscanos na Alemanha, Hungria, e Espanha e já iniciadas as missões nas terras pagãs.
Uma ocasião, o cardeal Ugolino censurou a Francisco por ter enviado alguns irmãos a lugares distantes e perigosos, ao que este respondeu: "Pensais que Deus levantou esses irmãos só por amor a este país? Na verdades vos digo, Deus os levantou para o despertamento e salvação de todos os homens".
Em 1218, ele próprio foi à Palestina, julgando, na simplicidade da sua fé, converter os muçulmanos em Damieta, no Egito, e pregou ali o Evangelho, mas sem qualquer êxito. Entre os exércitos dos cruzados, todavia, alcançou bom número de adeptos.
Os últimos anos de Francisco
Voltando à Itália depois de dois anos, descobriu que aqueles a quem fizera responsáveis pela direção da fraternidade, haviam de certo modo se afastado dos seus ideais.
Ele entendia que não somente os irmãos, individualmente, não deviam ter qualquer propriedade, mas a fraternidade mesma não devia possuir quaisquer bens. A pobreza, para ele, significava um meio de libertação dos cuidados mundanos que interferem com a carreira cristã.
Mas na sua ausência essa regra fora modificada, de modo que a fraternidade adquirira propriedades. Isto o perturbou bastante, além de outras modificações que encontrou.
É possível que se tenha convencido que seu ideal de pobreza era impraticável para o grupo de homens que dirigia o trabalho em outros países, onde a fraternidade já estava operando.
Talvez tivesse verificado que ele próprio era incapaz de dirigir uma organização tão vasta e que se espalhara por toda a parte. Certamente não possuía grande dose de capacidade administrativa.
Seja como for, pediu ao papa que assumisse a direção da fraternidade e a protegesse, o que resultou em transformá-la numa ordem, no mesmo plano e base das ordens monásticas.
Resignou, então, seu lugar de chefe. Durante os anos que lhe restaram sofreu algumas tristezas por verificar o afastamento dos ideais que imaginara para a sua ordem. Mas antes da sua morte, voltou sua antiga alegria e expressou-a no seu famoso "Cântico do Sol".
O trabalho posterior dos dominicanos e franciscanos
Apesar de modificados os ideais de Francisco, os franciscanos conservaram ainda por muitos anos muita coisa do espírito do fundador daquela organização. Onde havia gente, desamparada e sofredora, os franciscanos apareciam para ajudar.
Os dominicanos eram os seus dignos êmulos na estrita devoção ao trabalho de cada um. Os irmãos de ambas as ordens pregavam por toda a parte e serviam ao próximo de varias maneiras. Ambas as missões estenderam a sua obra aos limites extremos do mundo então conhecido, com heroísmo e fidelidade.
Um nobre franciscano, João de Monte Corvino, chegou a Pequin antes do fim do século XIII e trabalhou sozinho onze anos, até que chegou um companheiro. Alcançou grande resultado numa obra que durou trinta e seis anos. Muitos dos líderes da igreja medieval procederam dessas ordens e, de um modo particular, quase todos os maiores teólogos da era medieval.
Contraste entre a vida de alguns lideres religiosos e a religião da massa
Há grande e estranhável distância entre o que a igreja medieval produziu em alguns poucos caracteres grandiosos, tais como Bernardo, Domingos, Francisco, Anselmo, Luiz IX de França. Catarina de Sena e a vida religiosa da grande massa sobre o domínio dessa mesma igreja.
A diferença é certamente muitíssimo maior do que a existente entre os maiores líderes e a grande massa protestante na Europa e no protestantismo da América.
O cristianismo do povo era a religião do medo e da superstição
O cristianismo de quase todo o povo na Idade Média era essencialmente a religião do temor. A Igreja mantinha seus filhos em submissão, conservando bem vivo, em todas as pessoas, o medo do seu poder sobre a vida aqui e no além túmulo.
O Deus, por ela apresentado, era um Deus de juízo inexorável, cuja ira contra o pecado só podia ser aplacada pela conformidade aos mandamentos dessa Igreja, à qual Deus dera, como se ensinava, plena e absoluta autoridade.
Isto obrigava a totalidade das massas a tomar parte nas observâncias religiosas e obedecer aos preceitos morais da religião, não por amor e confiança em Deus, mas pelo terror inspirado pela ideia ou lembrança das consequências de outra atitude.
O Cristianismo popular também consistia grandemente em crendices e práticas supersticiosas. Havia muito disso no culto da Igreja e no seu complicado e poderoso sistema sacramental.
O fundamento da religião, para eles, era essa parte externa, de caráter impressionante, que viam no culto.
Enquanto Francisco pregava na Itália, apareceu na Alemanha, escrito por César de Heisterbuch, um livro com o título: "Dialogus Miraculorum", que retratava a religião do povo da Idade Média. É uma coleção de histórias fantásticas que, tanto o autor como o povo em cujo meio viveu, aceitavam como absolutamente verdadeiras.
O livro mostra que na crença do povo havia muita coisa que se pode qualificar como o mais grosseiro paganismo.
Por exemplo, um falcão apanhou um papagaio e com ele voou para devorá-lo adiante. No vôo o papagaio exclamou: "Valha-me S. Tomás de. Cantuária", e o falcão caiu, fulminado.
Doutra feita uma mulher que criava abelhas viu-as adoecerem e não sabendo o que fazer, tomou um pedação de hóstia e o pôs no cortiço. As abelhas perceberam que o corpo de Cristo ali estava, construíram uma capelinha ao redor da hóstia, com torres, portas, janelas e altares.
Desse modo, a religião do povo não passava de um cristianismo bastante aviltado, totalmente paganizado. Neste período, o povo em geral era grosseiramente ignorante e pobre, vivendo num estado de miséria e imundície dificilmente encontrada hoje em dia.
Visto como a única força existente para elevá-los desse estado de desgraça, era uma religião desfigurada como esta, não admira que houvesse, dominando em toda a parte, tanta miséria e maldade. A depravação e a miséria prevaleciam assustadoramente no meio das massas, especialmente nas grandes cidades.
A religião evangélica entre algumas famílias
Em alguns lugares, particularmente na Alemanha, podia-se encontrar alguma piedade evangélica. Percebemos isto nas vidas de algumas famílias mais do que através das agências ou instituições da Igreja.
Temos a prova da sua existência por causa de alguns hinos que se cantavam nos lares, como também por melo de certos relatos da vida familiar de muitas pessoas dessa era medieval.
Frederico Mecum, luterano, disse da sua própria infância, antes da Reforma: "Meu querido pai ensinou-me, quando eu ainda na infância, os dez mandamentos, a oração dominical, o credo e sempre nos ensinava a orar.
Pois - dizia ele - todas as coisas nos vem de Deus gratuitamente. É ele quem nos guia e nos ajuda, se o adorarmos e lhe formos fiéis”. Referindo-se a isto o historiador Lindsay, acrescenta: "Podemos encontrar, através da Idade Média, traços dessa religião evangélica familiar, muito simples, mas poderosa".
A preparação para o Cristianismo
01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo
A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100
A Igreja antiga (100 - 313)
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)
A Igreja antiga (313- 590)
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)
A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073)
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja
A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294)
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13a - Inocêncio III
13b - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental
Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)
23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma
Revolução e reconstrução (1517 - 1648)
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria
Devemos observar dois fatos importantes: primeiro, o cristianismo, isto é, a poderosa, influência cristã de muitos homens e mulheres de vidas santas e notáveis, aos quais a igreja cristã ainda honra. Segundo, o tipo de cristianismo, ou melhor, de vida religiosa do povo em geral.
A vida cristã de alguns líderes religiosos: Bernardo
Como representantes do Cristianismo medieval, na sua mais alta expressão, tomemos como exemplos Bernardo de Claraval, Domingos e Francisco de Assis. Bernardo (1090-1153) procedeu de uma nobre família da Borgúndia.
Seu pai era considerado um dos maiores expoentes daquele espírito de cavalaria da Idade Média.
Homem valoroso, amigo dos pobres e desamparados. A mãe de Bernardo era uma santa mulher de caráter profundamente cristão. Na casa dessa nobre família havia um ambiente de fé e bondade.
Todos os filhos foram criados nessa atmosfera em que Deus habitava. Bernardo tinha um físico muito fraco para a vida da cavalaria e em casa mostrava um zelo religioso fora do comum.
No seu tempo era natural quê se tornasse monge, o que fez aos 22 anos de idade. Desde moço revelou as qualidades que tornaram sua vida memorável. Levou consigo para o mosteiro todos os irmãos e mais trinta companheiros.
Para um homem da sua natureza e do seu entusiasmo, a vida monástica era um ideal irresistível. Provou a legitimidade da sua congregação, entrando para o mosteiro de Citeaux, quando poderia ter entrado em outros de vida confortável.
Em Citeaux as regras eram por demais severas: “Uma refeição por dia, sem carne, peixe ou ovos; poucas horas de sono, orações até meia noite e duros trabalhos nos campos". Tudo isso ainda não satisfazia o entusiasmo de Bernardo.
Impôs a si mesmo muitas outras penitências que prejudicaram permanentemente a sua saúde. Dois anos mais tarde chefiou um grupo de monges para fundar outro mosteiro num vale quase inacessível, ermo, no leste da França.
Ali. construíram um barracão do qual surgiu a famosa Abadia de Claraval. Atraídos pela presença de Bernardo, muitos homens vieram para o mosteiro, alguns deles das famílias mais nobres.
Seu mosteiro prosperou extraordinariamente. Muitas pessoas que não desejavam ser monges frequentavam, por certo tempo, o mosteiro, somente para terem contacto com Bernardo.
Tanto sobre os monges como sobre todas as pessoas que dele se aproximavam, Bernardo exercia uma influência maravilhosa, por sua personalidade e por causa das suas pregações diárias na capela do Mosteiro.
Pode-se dizer que o segredo desta Influência era o seu grande amor aos homens e, sobretudo, a Deus. Era dotado de excepcional simpatia pelas necessidades humanas, o que se verifica pela leitura das suas cartas, ainda hoje conservadas.
Era dotado de uma ardente consagração a Deus e a Jesus Cristo, vendo no Filho de Deus a mais alta expressão do amor divino. Isto verificamos em muitos dos seus hinos ainda hoje entoados em muitas igrejas cristãs.
A influência desse homem transpôs as fronteiras de Claraval. Vimos no último capítulo seus grandes serviços prestados à vida monástica. Mas seu poder não se limitava às paredes do convento.
Não é exagero afirmar que na primeira metade do século XII, este monge semi-inválido, sem outro ofício que o de abade de Claraval; sem riquezas nem exércitos, foi o homem mais influente da Europa. Isto foi devido unicamente à pureza e à força do seu caráter.
Toda a sorte de gente procurava ouvir os seus conselhos a respeito dos mais variados assuntos e problemas, fossem grandes ou pequenos; e tais conselhos sempre resultavam eficazes.
Por meio de cartas, francas e resolutas, chegou a reprovar papas e reis pela negligência dos deveres nos seus respectivos cargos.
Quando a Europa estava em confusão por causa da disputa de dois homens que pretendiam ser o legítimo papa, sua opinião foi solicitada pelo reis e prelados da França, e sua decisão foi aceita por todo mundo.
Quando o papa Eugênio IV proclamou a segunda cruzada, pôs sobre os ombros de Bernardo a tarefa de convocar os homens para que assumissem a direção da grandiosa empresa.
Na França e na Alemanha sua pregação despertou enorme entusiasmo para a guerra chamada santa. O imperador tinha decidido ficar no país, mas ouviu a pregação de Bernardo, ele, o imperador, tomou a Cruz.
Foi assim que Bernardo veio a ser o dirigente espiritual da cristandade. Não obstante, por toda a sua vida, permaneceu humilde e pobre, sem nada ambicionar para si próprio. [1]
Domingos
Não muito depois da morte de Bernardo nasceu um grande espanhol cujo nome era Domingos (1170-1221). Possuía ele grande cultura universitária quando se tornou sacerdote, mas sua vida verdadeiramente operosa manifestou-se mui vagarosamente.
Já passando dos trinta anos, viajou pelo sudeste da França e ali viu o efeito da chamada heresia albigense.
Uma mistura de verdade e de erro, e que tinha provocado uma deserção generalizada de muitos elementos da igreja. Viu também o começo da guerra terrível com a qual os papas tentavam esmagar a heresia.
Tudo isso o impressionou profundamente e lhe mostrou que a época estava tremendamente necessitada da pregação da verdade cristã. Era assim que ele viu o único meio de se acabar com a heresia.
Como planejou sua ordem
Por fim concebeu o plano de organização da sua companhia de pregadores que devia viajar por toda a parte ensinando o povo.
Quando tinha quarenta e cinco anos conseguiu de Inocêncio III a aprovação do seu plano, e imediatamente organizou a ordem. Seu projeto encontrou grande simpatia e entusiasmo entre os moços do seu tempo, o que prova que ele conhecia a grande necessidade da época. A ordem cresceu aos saltos, de uma maneira extraordinária.
Dentro de quatro anos de trabalho ativo, cerca de vinte mosteiros de frades dominicanos foram estabelecidos em vários países da Europa, e a obra desses frades (irmãos) espalhou-se por todos os recantos.
O desenvolvimento da ordem
Inflamado de zelo, Domingos viajou por toda a parte pregando e alistando novos candidatos. Desde que seu plano exigia pregadores experimentados, procurou interessar particularmente os estudantes universitários, dos quais alcançou grande número.
Desejou intensamente ir como missionário trabalhar entre os tártaros, pagãos que habitavam o sul da Rússia. Mas esgotado por trabalhos excessivos, morreu apenas quatro anos após enviar os primeiros frades, deixando a ordem bastante crescida e solidamente organizada.
Domingos não foi dotado do maravilhoso magnetismo do seu contemporâneo Francisco de Assis, contudo, por sua própria sabedoria, força de vontade, entusiasmo e seu gênio organizador, criou uma das melhores e mais poderosas organizações religiosas da Idade Média.
Francisco de Assis
Dentre os líderes religiosos da Idade Média, Francisco de Assis é hoje o mais honrado e amado por toda a igreja cristã. Cristãos de todos os nomes sentem-se inspirados com a vida deste homem que tão fielmente seguiu a Jesus Cristo.
Francisco (1182-1226) era filho de um comerciante de Assis, na Itália central. No meio de uma mocidade desregrada e indiferente foi atingido por séria moléstia que fez voltar seus pensamentos para Deus. Seu despertar religioso manifestou-se imediatamente em serviços de amor ao próximo.
Outrora extravagante nos seus prazeres, mostrava-se agora pródigo em suas dádivas aos necessitados. Dedicou-se especialmente à caridade entre as pessoas mais infelizes daquela época, os leprosos, dispensando-lhes cuidado pessoal e amizade.
Restaurou também algumas igrejas em ruínas, expressando desse modo seu grande desejo de servir a Deus. Todavia ainda não tinha feito o trabalho que Deus lhe reservara.
O pai zangado por causa das esmolas pródigas do filho procurou interná-lo como louco, num hospício. Francisco então renunciou a qualquer pretensão à herança paterna e saiu pelo mundo como mendigo.
Sua vocação para o serviço
Pouco depois, assistindo a um serviço religioso numa capela perto de Assis, ouviu o sacerdote lendo uma parte do capítulo 10 de S. Mateus, onde se descreve a cena em que Jesus envia os seus discípulos a pregar.
Entendeu que aquilo era como uma chamada de Cristo, a que imediatamente obedeceu. Embora leigo, foi à cidade e começou a pregar.
Desde então e por toda a sua vida, ministrou com excelentes resultados o ensino mais simples e o cristianismo mais prático, com o poder da sua consagração e da sua personalidade atraente e vigorosa.
A organização da fraternidade
Em pouco tempo dois homens da cidade de Assis, tornaram-se seus companheiros. Isto sugeriu-lhes a organização de uma fraternidade que vivesse como eles viviam, a serviço do próximo, no espírito de Cristo, e em pobreza. Apareceram alguns outros discípulos e foi organizada a fraternidade.
No primeiro ano (1209-1210) Francisco e seus companheiros levaram a termo uma missão evangelística às regiões remotas da Úmbria. O grupo continuou a crescer, reunindo elementos de Assis e das vizinhanças.
Eram diferentes dos dominicanos, porque esses primeiros franciscanos, na maioria, não eram bastante instruídos. Depois dessa primeira obra da fraternidade, Francisco foi a Roma com alguns dos seus companheiros e obteve de Inocêncio III parcial aprovação dos objetivos do seu grupo.
A obra dos franciscanos
A capela onde Francisco sentiu sua chamada foi-lhe concedida para sede da fraternidade. Ao redor dela foram construídos rudes abrigos para os irmãos. Raras vezes, porém, ali permaneciam, pois levavam todo o tempo a viajar, servindo o povo, segundo a ordem expressa e o exemplo de Jesus.
Pregavam nos campos enquanto os trabalhadores descansavam; nos mercados, feiras, vilas, cidades, onde quer que encontrassem uma oportunidade. Auxiliavam os necessitados de toda a natureza, especialmente os leprosos.
Não tinham dinheiro para dar, pois a pobreza era parte essencial das suas vidas; todavia prestavam serviços especiais e cuidados pessoais.
A missão deles não era somente a de pregar, como a dos, dominicanos, mas uma espécie de ministério múltiplo que atendesse a todas as necessidades humanas, inclusive a pregação ou assistência espiritual.
Mantinham-se com os trabalhos que faziam, e quando não podiam fazê-lo, recorriam às esmolas. Daí a razão por que, tanto eles como os dominicanos, que logo começaram a adotar os métodos dos primeiros, eram conhecidos como mendicantes ou Ordens de Mendicantes.
Um característico notável desses primeiros franciscanos foi a excepciona alegria, a satisfação de que se achavam possuídos, e que lhes foi inspirada, por Francisco.
Para ele e seus companheiros ungidos do mesmo ideal, uma vida de serviço ao próximo e de pobreza por amor a Cristo não constituía um sacrifício, mas um motivo de alegria. Tudo era feito num espírito de consagração e de obediência a Jesus, de amor para com os homens, alegria e desapego ao mundo.
Nunca houve, então, maior empenho de imitar a Cristo, ou maior revelação de fé nele e mais prontidão em cumprir suas ordens divinas, do que o revelado por Francisco de Assis e esses primeiros franciscanos.
Crescimento da obra franciscana
A fraternidade se desenvolveu rapidamente para além das fronteiras do país. Quando se reuniu o segundo capítulo geral, em 1217, havia irmãos franciscanos na Alemanha, Hungria, e Espanha e já iniciadas as missões nas terras pagãs.
Uma ocasião, o cardeal Ugolino censurou a Francisco por ter enviado alguns irmãos a lugares distantes e perigosos, ao que este respondeu: "Pensais que Deus levantou esses irmãos só por amor a este país? Na verdades vos digo, Deus os levantou para o despertamento e salvação de todos os homens".
Em 1218, ele próprio foi à Palestina, julgando, na simplicidade da sua fé, converter os muçulmanos em Damieta, no Egito, e pregou ali o Evangelho, mas sem qualquer êxito. Entre os exércitos dos cruzados, todavia, alcançou bom número de adeptos.
Os últimos anos de Francisco
Voltando à Itália depois de dois anos, descobriu que aqueles a quem fizera responsáveis pela direção da fraternidade, haviam de certo modo se afastado dos seus ideais.
Ele entendia que não somente os irmãos, individualmente, não deviam ter qualquer propriedade, mas a fraternidade mesma não devia possuir quaisquer bens. A pobreza, para ele, significava um meio de libertação dos cuidados mundanos que interferem com a carreira cristã.
Mas na sua ausência essa regra fora modificada, de modo que a fraternidade adquirira propriedades. Isto o perturbou bastante, além de outras modificações que encontrou.
É possível que se tenha convencido que seu ideal de pobreza era impraticável para o grupo de homens que dirigia o trabalho em outros países, onde a fraternidade já estava operando.
Talvez tivesse verificado que ele próprio era incapaz de dirigir uma organização tão vasta e que se espalhara por toda a parte. Certamente não possuía grande dose de capacidade administrativa.
Seja como for, pediu ao papa que assumisse a direção da fraternidade e a protegesse, o que resultou em transformá-la numa ordem, no mesmo plano e base das ordens monásticas.
Resignou, então, seu lugar de chefe. Durante os anos que lhe restaram sofreu algumas tristezas por verificar o afastamento dos ideais que imaginara para a sua ordem. Mas antes da sua morte, voltou sua antiga alegria e expressou-a no seu famoso "Cântico do Sol".
O trabalho posterior dos dominicanos e franciscanos
Apesar de modificados os ideais de Francisco, os franciscanos conservaram ainda por muitos anos muita coisa do espírito do fundador daquela organização. Onde havia gente, desamparada e sofredora, os franciscanos apareciam para ajudar.
Os dominicanos eram os seus dignos êmulos na estrita devoção ao trabalho de cada um. Os irmãos de ambas as ordens pregavam por toda a parte e serviam ao próximo de varias maneiras. Ambas as missões estenderam a sua obra aos limites extremos do mundo então conhecido, com heroísmo e fidelidade.
Um nobre franciscano, João de Monte Corvino, chegou a Pequin antes do fim do século XIII e trabalhou sozinho onze anos, até que chegou um companheiro. Alcançou grande resultado numa obra que durou trinta e seis anos. Muitos dos líderes da igreja medieval procederam dessas ordens e, de um modo particular, quase todos os maiores teólogos da era medieval.
Contraste entre a vida de alguns lideres religiosos e a religião da massa
Há grande e estranhável distância entre o que a igreja medieval produziu em alguns poucos caracteres grandiosos, tais como Bernardo, Domingos, Francisco, Anselmo, Luiz IX de França. Catarina de Sena e a vida religiosa da grande massa sobre o domínio dessa mesma igreja.
A diferença é certamente muitíssimo maior do que a existente entre os maiores líderes e a grande massa protestante na Europa e no protestantismo da América.
O cristianismo do povo era a religião do medo e da superstição
O cristianismo de quase todo o povo na Idade Média era essencialmente a religião do temor. A Igreja mantinha seus filhos em submissão, conservando bem vivo, em todas as pessoas, o medo do seu poder sobre a vida aqui e no além túmulo.
O Deus, por ela apresentado, era um Deus de juízo inexorável, cuja ira contra o pecado só podia ser aplacada pela conformidade aos mandamentos dessa Igreja, à qual Deus dera, como se ensinava, plena e absoluta autoridade.
Isto obrigava a totalidade das massas a tomar parte nas observâncias religiosas e obedecer aos preceitos morais da religião, não por amor e confiança em Deus, mas pelo terror inspirado pela ideia ou lembrança das consequências de outra atitude.
O Cristianismo popular também consistia grandemente em crendices e práticas supersticiosas. Havia muito disso no culto da Igreja e no seu complicado e poderoso sistema sacramental.
O povo, em virtude da ignorância e da sobrevivência de certos hábitos mentais pagãos, recebia e entendia a parte externa e supersticiosa da forma de cristianismo que se lhe apresentava, mas não percebia o sentido espiritual do culto.
O fundamento da religião, para eles, era essa parte externa, de caráter impressionante, que viam no culto.
Enquanto Francisco pregava na Itália, apareceu na Alemanha, escrito por César de Heisterbuch, um livro com o título: "Dialogus Miraculorum", que retratava a religião do povo da Idade Média. É uma coleção de histórias fantásticas que, tanto o autor como o povo em cujo meio viveu, aceitavam como absolutamente verdadeiras.
O livro mostra que na crença do povo havia muita coisa que se pode qualificar como o mais grosseiro paganismo.
Por exemplo, um falcão apanhou um papagaio e com ele voou para devorá-lo adiante. No vôo o papagaio exclamou: "Valha-me S. Tomás de. Cantuária", e o falcão caiu, fulminado.
Doutra feita uma mulher que criava abelhas viu-as adoecerem e não sabendo o que fazer, tomou um pedação de hóstia e o pôs no cortiço. As abelhas perceberam que o corpo de Cristo ali estava, construíram uma capelinha ao redor da hóstia, com torres, portas, janelas e altares.
Desse modo, a religião do povo não passava de um cristianismo bastante aviltado, totalmente paganizado. Neste período, o povo em geral era grosseiramente ignorante e pobre, vivendo num estado de miséria e imundície dificilmente encontrada hoje em dia.
Visto como a única força existente para elevá-los desse estado de desgraça, era uma religião desfigurada como esta, não admira que houvesse, dominando em toda a parte, tanta miséria e maldade. A depravação e a miséria prevaleciam assustadoramente no meio das massas, especialmente nas grandes cidades.
A religião evangélica entre algumas famílias
Em alguns lugares, particularmente na Alemanha, podia-se encontrar alguma piedade evangélica. Percebemos isto nas vidas de algumas famílias mais do que através das agências ou instituições da Igreja.
Temos a prova da sua existência por causa de alguns hinos que se cantavam nos lares, como também por melo de certos relatos da vida familiar de muitas pessoas dessa era medieval.
Frederico Mecum, luterano, disse da sua própria infância, antes da Reforma: "Meu querido pai ensinou-me, quando eu ainda na infância, os dez mandamentos, a oração dominical, o credo e sempre nos ensinava a orar.
Pois - dizia ele - todas as coisas nos vem de Deus gratuitamente. É ele quem nos guia e nos ajuda, se o adorarmos e lhe formos fiéis”. Referindo-se a isto o historiador Lindsay, acrescenta: "Podemos encontrar, através da Idade Média, traços dessa religião evangélica familiar, muito simples, mas poderosa".
Por Robert Hastings Nichols
ÍNDICE
ÍNDICE
A preparação para o Cristianismo
01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo
A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100
A Igreja antiga (100 - 313)
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)
A Igreja antiga (313- 590)
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)
A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073)
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja
A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294)
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13a - Inocêncio III
13b - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental
Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)
23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma
Revolução e reconstrução (1517 - 1648)
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria
A era da Reforma (1517 - 1648)
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
O cristianismo na Europa (1648 - 1800)
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929