Os batismos dos três mil e do apóstolo Paulo


Resumo
  • O artigo aborda o tema do batismo cristão, que é uma ordenança simbólica que representa a regeneração do pecador pelo Espírito Santo. 
  • O autor analisa os batismos dos três mil e do apóstolo Paulo, e argumenta que esses batismos não foram por imersão, mas por aspersão ou derramamento. Entre os seus argumentos estão:
  • O tempo e a água disponíveis em Jerusalém não eram suficientes para tantas imersões. O autor mostra como os primeiros batismos cristãos se realizaram no dia de Pentecostes, quando foram batizadas três mil pessoas (Atos 2:41). 
  • Ele também mostra como o tempo não seria suficiente para se fazer todos esses batismos em um só dia, considerando o sermão de Pedro, os preparativos dos candidatos e a solenidade do rito. 
  • Ele também mostra como não havia em Jerusalém água suficiente e disponível para tantas imersões, considerando a escassez de fontes e piscinas na cidade.
  • O batismo com água era um símbolo da lavagem dos pecados. O autor mostra como o batismo com água não regenera, mas é símbolo do batismo do Espírito Santo que purifica os pecados e renova a vida. 
  • Ele também mostra como Ananias disse a Paulo para se levantar e ser batizado, lavando os seus pecados (Atos 22:16), sem nenhuma alusão à imersão.

Os primeiros batismos cristãos se realizaram no dia de Pentecostes, quando foram batizadas três mil pessoas, como se lê em Atos 2:41. Parece-nos impossível que esses batismos, tenham sido por imersão, pelos motivos que passamos a expor.

Em primeiro lugar, o tempo não seria suficiente para se fazer todos esses batismos em um só dia. Não se tratava nessa ocasião de fazer uma prova de quantas pessoas se podia batizar em uma hora ou em um dia.

Os batismos, deviam ter sido feitos com o devido preparo e com calma, decoro e solenidade. Não podiam ter sido feitos às carreiras.

Seriam, naturalmente, os doze apóstolos que haviam de administrar o rito aos convertidos. Quanto tempo poderiam ter tido para esse serviço?

Pedro começou o seu sermão às nove horas da manhã e, depois de proferir o sermão registrado no livro dos Atos, diz Lucas que ele "com muitas outras palavras dava testemunho e exortava-os, dizendo: "Salvai-nos desta geração perversa" (Atos 2:40).

Seria preciso dar explicações aos candidatos ao batismo, e se o batismo fosse por imersão, teriam de procurar vestes apropriadas ao ato. Tudo isso consumiria tempo. Esses preparativos, por mais abreviados que fossem, consumiriam o resto da manhã, restando somente a tarde para os batismos.

Cada um dos apóstolos teria de batizar duzentos e cinquenta pessoas. Isso seria fácil se o batismo fosse por aspersão, servindo-se os apóstolos de ramos de hissopo para esse fim, mas dificílimo, ou mesmo impossível, se os batismos tivessem de ser feitos por imersão.

Um ministro imersionista pode imergir, como tivemos ocasião de verificar recentemente, umas vinte pessoas em uma hora, sendo o batismo administrado com calma e decoro.

Os preliminares de vestir e dar o testemunho levam algum tempo. Vinte batismos por hora, portanto, uma média razoável. É verdade que se o serviço fosse feito às carreiras, como se fosse para ganhar uma aposta, poder-se-ia batizar mais gente, mas o serviço dos apóstolos não era feito às carreiras.

Restando a tarde do dia de Pentecostes para os batismos, os apóstolos podiam ter trabalhar dentro d'água não mais de umas cinco horas.

Trabalhando cinco horas, de acordo com a média de vinte batismos por hora, cada apóstolo teria batizado cem pessoas e os doze teriam conseguido batizar apenas mil e duzentas pessoas.

Para batizar os três mil em cinco horas eles teriam a necessidade de imergir os candidatos às carreiras, como se tratasse de uma prova de atletismo. Isso não estaria de acordo com as forças físicas dos apóstolos e nem com a solenidade e o decoro exigidos por este rito religioso.


Em segundo lugar, não havia, ali em Jerusalém, água suficiente e disponível para tantas imersões. Diz o dr. Robinson, conhecido autor de um léxico grego, que contra a imersão dos três mil há uma dificuldade insuperável na falta de água.

"Não existe”, diz ele, "um riacho na vizinhança de Jerusalém, durante o verão (a época de Pentecostes), excetuando-se o rego insignificante de Siloé de umas poucas varas de comprimento, e a cidade era abastecida de água, como ainda é hoje em dia, por cisternas e reservatórios públicos".

Essa água não só seria insuficiente, mas também não estaria à disposição dos apóstolos para nela imergirem três mil pessoas. Essa água era para o uso dos judeus e dos seus chefes e eles eram inimigos dos apóstolos.

Está claro que não consentiriam que se contaminasse essa água pela imersão nela de três mil pessoas.

Os imersionistas têm o costume de dizer que João Baptista procurou "muitas águas" para seus batismos, porque eram feitos por imersão.

Se assim foi, porque é que os apóstolos não procuraram, do mesmo modo, "muitas águas" para esse fim? Se "muitas águas" são necessárias para a imersão de muita gente, então, em Jerusalém, no dia de Pentecostes, não houve imersões, pois ali não havia "muitas águas".

Ainda uma terceira dificuldade para a imersão de três mil pessoas no dia de Pentecostes é terem elas de adquirir roupa apropriada e lugares apropriados para a troca dessa roupa. Batizados por imersão, onde trocariam a roupa, ou voltariam para as casas ensopadas e com a roupa pregada no corpo?

São essas as considerações que nos fazem crer não terem sido batizados os três mil por imersão.

Quem fizer um estudo cuidadoso do batismo de Paulo, sem preconceitos sobre o modo do batismo, terá de se convencer que o grande Apóstolo dos Gentios foi batizado em pé; e não por imersão. Somente uma interpretação forçada e fora do natural poderá ver nesse batismo uma imersão. Vamos às provas.

Paulo se convertera e estava em Damasco, em casa de um homem por nome Judas. A esse foi enviado um cristão, por nome Ananias, para que animasse e batizasse o recém convertido. O próprio apóstolo assim descreve o que se passou:

"Um homem chamado Ananias, temente a Deus segundo a Lei, e que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali habitavam, vindo ter comigo e pondo-se ao meu lado, disse-me: Saulo, irmão, recebe a vista. 

E nessa mesma hora, recebendo a vista, olhei para ele. Disse: O Deus de nossos pais te designou diante mão para conhecer a sua vontade, ver o Justo e ouvir uma voz da sua boca, porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens das cousas que tens visto e ouvido. E agora, porque te demoras? 

Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o seu nome... (Atos 22.12-16) ...Ananias mandou que Paulo se levantasse e recebesse o batismo e ele "levantando-se foi batizado" (anastas ebaptisthe, diz o grego, Atos 9:18).

As duas passagens, no livro dos Atos que se referem ao batismo de Paulo, dão a entender que ele se levantou para ser batizado. Nas duas passagens emprega-se o particípio anastas que se traduz levantando-se.


Ensinam-nos os gramáticos que o particípio aoristo do grego, traduzido neste passo pelo particípio presente, representa um ato realizado logo antes da ação indicada pelo verbo, O particípio aoristo indica uma ação completada no momento antes de se realizar o ato expresso pelo verbo a que vem ligado.

“Paulo levantando-se foi batizado” quer dizer que, logo ao acabar de se levantar, foi batizado. A tradução literal do grego seria “Tendo se levantado Paulo, foi batizado”. O ato do batismo veio logo após o ato de levantar-se.

Somente uma interpretação forçada e contraria às regras da gramática poderia admitir que houvesse intervalo entre o levantar-se e o batismo, dando assim tempo para que Paulo e Ananias saíssem do quarto onde o apóstolo estivera deitado, para procurarem um rio, um tanque ou uma lagoa onde se pudesse realizar uma imersão.

Lucas emprega o particípio anastas dezessete vezes no seu Evangelho e dezoito vezes nos Atos. Encontramos esse vocábulo, ao todo, quarenta e cinco vezes no Novo Testamento: "Em nenhum desses casos" diz-nos o escritor dr. Ashbel Fairchild, "podem ser inseridas, entre o particípio e o verbo que o acompanha, palavras que se supõem subentendidas ou omitidas". Vejamos alguns exemplos do emprego de anastas.

“E levantando-se os moços amortalharam-no” (Atos 5:6). Está claro que o ato de amortalhar (vestir com mortalha) seguiu logo ao de se levantarem os moços. Não houve nenhum ato intermediário entre as duas ações descritas pelo particípio e pelo verbo

"E levantando-se um deles chamado Ágabo, dava a entender pelo Espírito que haveria uma grande fome por todo o mundo" (Atos 11:28). Percebe-se, pela simples leitura deste trecho, que Ágabo ficou em pé para falar e que o falar seguiu logo ao levantar, sem outra ação intermediária.

"Paulo, levantando-se e acenando com a mão, disse:" (Atos 13:16). O que Paulo disse foi dito logo depois dele se levantar; não houve intervalo entre o levantar e o falar, em que ele tratasse de outras coisas.

"Porque dormis? Levantai-vos (anastantes) e orai para que não entreis em tentação" (Lucas 22:46). A tradução literal da parte que nos interessa é: "Levantando-vos, orai". Os discípulos deviam se levantar para orar, a sua oração devia seguir logo ao ato de se levantarem.

O mandamento de Jesus não dava margem a que fossem cuidar de outra coisa qualquer antes de orar. A ação expressa pelo verbo principal devia seguir logo ao ato expresso pelo particípio anastantes.


Os exemplos podiam ser multiplicados, mas os que ficam aqui registrados são suficientes para indicar bem claramente que o particípio anastas exige uma ação imediata indicada pelo verbo que o acompanha e não admite nenhum intervalo de tempo para se tratar de outros misteres antes da realização do ato designado pelo verbo principal de que vem acompanhado.

Do que fica exposto, torna-se evidente que Ananias mandou que Paulo se levantasse para ser batizado e que este, obedecendo, se levantou e, logo em seguida, sem tratar de outra coisa alguma, foi batizado, ali mesmo, no seu quarto, assim como estava, em pé, na presença do administrante do rito que simbolizava a purificação dos seus pecados.

As interpretações que procuram intercalar, entre o levantar de Paulo e o seu batismo, uma procura de água para se realizar uma imersão, são evidentemente forçadas e violam bem conhecidas leis de linguagem.

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