59 - O Movimento Anglo-Católico

João Henrique Newman, um dos líderes do movimento de Oxford

3. O Movimento Anglo-Católico

O ambiente em que ele se originou
O movimento Anglo-Católico de Oxford foi, em certo grau, um reavivamento das ideias do antigo partido da "Alta Igreja", da Igreja Inglesa.

Em outros respeitos mais importantes foi um novo impulso produzido , pelas condições políticas e religiosas da época.

Na Inglaterra, a fúria e o morticínio da Revolução Francesa tornaram muita gente receosa quanto ao crescimento do poder do povo. Generalizou-se um espírito de conservantismo, muito preso ao passado e temeroso das mudanças políticas.

Mas nos anos que se seguiram a 1830, o movimento democrático foi a aprovação da Reforma Constitucional que tornou a Casa dos Comuns muito mais representativa do povo. 

Disto, resultou, naturalmente, que o povo veio a ter mais poder sobre a Igreja da Inglaterra, visto como esta era governada pelo Parlamento. Ao mesmo tempo outras leis retiraram da Igreja Nacional alguns dos seus privilégios.

Além disso, o Movimento Liberal fez que homens da igreja alterassem algumas de suas próprias ideias teológicas e rejeitassem partes dos ensinos eclesiásticos.

Alguns elementos da Igreja Anglicana sentiram que essas mudanças eram muito perigosas à Igreja e, portanto, ao Cristianismo da Inglaterra e à vida nacional inglesa.


Líderes de Oxford
Assim julgou um grupo de moços notáveis da Universidade de Oxford. Os mais destacados dentre ele foram: João Keble, membro do Colégio Oriel, e João Henrique Newman, vigário da capela da Universidade, os quais exerciam influência e dispunham de poder em Oxford, tanto por sua personalidade como por sua pregação.

Depois juntou-se-lhes Edward Pusey, professor de hebraico, um dos homens de maior influência em Oxford.

Profundamente religioso e de grande influência eclesiástica ficou temeroso do que pudesse acontecer à igreja. Julgaram esses homens que esta se achava em perigo de ser invadida por mudanças políticas e teológicas, especialmente aquelas.

O meio de enfrentar a situação, pensavam eles era espalhar ideias corretas sobre a natureza da igreja. Criam eles que se o povo se convencesse de que a igreja era realmente uma instituição divina, estaria pronto a defendê-la.

“Folhetos para os tempos atuais”
De comum acordo, estes homens de Oxford começaram, em 1833, a publicar os famosos "Folhetos para os tempos atuais", em que divulgavam o que julgavam ser ideias corretas sobre a igreja.

Deram muita ênfase à sucessão apostólica dos bispos e à autoridade dada por Deus à Igreja para ensinar a verdade e governar os homens.

Afirmavam esses mestres que os ensinos da igreja, quanto ao seu valor, eram iguais ou superiores aos da Bíblia. Insistiram muito nos sacramentos, aos quais atribuíram virtudes salvadoras.

Apresentaram como ideal exemplo de imitação a Igreja Cristã dos primeiros séculos. "Aquele tempo”, diziam eles, “a igreja cristã era indivisa, católica, congregando todos os cristãos.

Ensinava a verdade e governava os homens com autoridade. Possuía em toda a parte seus bispos que ordenavam os ministros. Observava rigidamente os sacramentos”.

Conquanto muitas dessas idéias fossem fantasiosas, os que as disseminavam criam nelas entusiasticamente. Eles se consideravam católicos no sentido de estarem de acordo com o primitivo cristianismo católico (universal). Recusavam o nome de protestante porque este se referia à divisão da igreja.

Movimento e culto
O culto público tornou-se uma parte excessivamente importante da religião, nesse movimento. Os seus adeptos insistiam em que houvesse culto diário nas igrejas, e frequente celebração da eucaristia.

Criam, com muito fervor, no valor religioso dos atos simbólicos do culto, tais corno movimentos para o altar, genuflexões, queima de incenso, mobiliário e ornatos simbólicos, velas no altar, o uso da cruz e ricos paramentos para o clero.

Eles também criam que o culto divino deveria ter a maior beleza possível, por meio do uso de todas as faculdades que Deus concedeu ao homem, tanto com a música como com a arquitetura e a pintura.


Conversões ao catolicismo
Era óbvio que as ideias desses "Folhetistas" anglo-católicos levariam muitos deles à Igreja Romana. Tal tendência e afinidade foram apresentadas pelo fulminante e célebre "Folheto" N°. 90, escrito por Newman, em 1841.

Ele sustentava que os 9 artigos que constituíam o Credo da Igreja da Inglaterra, não eram necessariamente protestantes. Isto importava em afirmar que um homem podia ser praticamente católico romano, e ainda permanecer na Igreja da Inglaterra.

Em virtude da condenação geral desses pontos de vista, alguns dos mais extremados "Folhetistas" chegaram à conclusão que era impossível serem "católicos" e não católicos romanos, e por isso passaram para a Igreja Romana. 

Dentre estes o mais eminente foi Newman, que depois foi feito cardeal. Durante os anos de 1845 a 1851 algumas centenas de clérigos anglicanos, inclusive muitos elementos da Universidade de Oxford, seguiram o mesmo caminho.

A influência do movimento na igreja inglesa
A grande maioria dos "Folhetistas", todavia, permaneceu na Igreja Anglicana. A partir do meado do século XIX essas ideias foram mais e mais sendo adotadas pelo clero e laicato anglicanos.

A religião tornou- se mais restrita à Igreja e aos sacerdotes, mais sacramental. Foi exaltada a autoridade do ensino da igreja. Insistiu-se muito na observância escrupulosa dos ritos e fez-se grande propaganda de uma doutrina muito elevada dos sacramentos.

Muitos ministros deram para ouvir confissões. O culto em muitas igrejas tornou-se ainda mais ritualista e cheio de artifícios. Da preocupação com a beleza do culto resultaram importantes melhoramentos na arquitetura, decoração e música nas igrejas.

Anglo-catolicismo
Os nomes “Folhetistas" e "Oxford" dados a esse movimento foram substituídos pelo de "anglo-católico".

Anglo-católicos eram os anglicanos que consideravam a identidade e a unidade da sua igreja com a igreja Católica, universal, e procuravam conduzir sua igreja à conformidade com a doutrina, com o culto e ritos religiosos primitivos.

Na prática, muito se aproximavam da Igreja Ortodoxa e mais ainda dos métodos da Igreja Romana. Os Anglo-Católicos, porém, não aceitavam a supremacia do papa.


Os resultados
Este movimento provocou um real reavivamento da religião e das obras sociais em muitas partes da Igreja da Inglaterra. Alguns dos seus mais devotados ministros foram anglo-católicos. Ele também desenvolveu o formalismo religioso e certas práticas de tal modo que se aproximavam da superstição.

Manteve a separação entre as igrejas Anglicanas e as igrejas Livres, pois a insistência anglo-católica quanto à necessidade de bispos, na sucessão apostólica, impedia o reconhecimento das Igrejas Livres como igrejas, e as Igrejas Livres por sua vez protestavam contra essas tendências romanistas.

No protestantismo de língua inglesa, de modo geral, o movimento despertou uma idéia mais séria e mais digna sobre a Igreja, uma apreciação mais alta do culto e uma seriedade maior nos atos de adoração e louvor. A vida eclesiástica americana muito lucrou com todos esses movimentos.


Por Robert Hastings Nichols

ÍNDICE


A preparação para o Cristianismo

01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo

A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100

A Igreja antiga (100 - 313) 
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)

A Igreja antiga (313- 590) 
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)

A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073) 
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média 
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja

A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294) 
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13a - Inocêncio III
13b - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas 
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental

Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)

23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma

Revolução e reconstrução (1517 - 1648) 
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria

O cristianismo na Europa (1648 - 1800)
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda

O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu

O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres 
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico

O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929

Semeando Vida

Profundidade Teológica e Orientação Espiritual para Líderes e Estudiosos da Fé

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