4 - A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA
Os poderes do papa
O papa era o monarca absoluto da Igreja. Os bispos exerciam autoridade, mas eram todos submissos ao pontífice. Além disso, os papas exerciam uma autoridade contínua e imediata, passando por cima da autoridade dos bispos, dominando diretamente nas dioceses.
Conquanto os bispos fossem nominalmente eleitos desde o tempo de Inocêncio III, os papas vieram mais e mais controlando a escolha deles.
Muitas centenas de milhares de monges estavam sob a imediata direção do papa, o que outorgava a este um poder imenso. Os decretos do papa eram aceitos como tendo a mesma autoridade das decisões dos concílios eclesiásticos.
Com o papa estava o último recurso em todas as questões que se levantassem na Igreja. Até mesmo das cortes judiciais civis, apelava-se para o papa.
Os poderes dos bispos
Logo abaixo do papa estavam os arcebispos governando "províncias" constituídas de várias dioceses. Vinham, então, os bispos, cada qual governando a sua diocese com todos os encargos eclesiásticos que lhes eram peculiares.
Exerciam a superintendência sobre o clero, cuidavam das instituições, da caridade e supervisionavam as escolas.
Presidiam aos júris no julgamento de questões que se relacionassem com a Igreja. Somente o bispo ministrava a confirmação e ordenação.
Em virtude dos seus grandes territórios, muitos arcebispos e bispos exerciam o governo temporal ao lado do governo espiritual. As suas riquezas lhes permitiam viver principescamente, e muitos mantinham organizações militares nos seus territórios.
Os poderes e os deveres dos párocos
A pessoa através da qual o homem comum podia entrar em contato com a Igreja era, naturalmente, o pároco da sua freguesia.
O padre da Idade Média dispunha de um poder quase absoluto sobre o povo, o que não é comum nos dias atuais. Com ele estavam os sacramentos julgados necessários à salvação, razão por que ele exercia tão espantosa autoridade.
Através do confessionário o padre conhecia e controlava a conduta do povo sob sua orientação e governo. O pároco ministrava aos meninos e meninas a instrução religiosa e o ensino primário.
Por serem raras as escolas, o que o clero ministrava era toda a educação que os pobres podiam receber. Fazia caridade com as esmolas das caixas da Igreja. O sacerdote era, ao mesmo tempo, ministro, mestre-escola, polícia, juiz em pendências menores, despenseiro dos pobres, etc.
É verdade que nem todos os padres realizavam todos esses misteres, pois no meio deles havia muitíssimos preguiçosos que também eram ignorantes e imorais.
A verdade é que o padre em virtude do seu ofício, dispunha de um poder extraordinário. Precisamos entender este ponto sem o que não compreenderemos o absoluto domínio da Igreja sobre a vida humana, na Idade Média.
Ordens monásticas
Além dessa organização ordinária que já descrevemos, a igreja papal tinha ao seu serviço uma outra poderosa organização, nas ordens monásticas.
Na história do movimento reformista de Cluny, vimos quão grande foi a influência do monaquismo na vida da Igreja. Depois de certo tempo, esse movimento perdeu sua força e a vida monástica começou a negligenciar os seus ideais.
A reforma que se fazia necessária veio nos fins do século XI e no XII. Foram estabelecidas muitas. A mais importante dessas ordens foi a dos Cistercienses, a que pertenciam muitos dos novos mosteiros famosos, alguns hoje em ruínas, como o da "Fontains dAbbay" na Inglaterra.
O líder dos cistercienses e inspirador da maior parte do entusiasmo pela vida monástica foi Bernardo, abade de Claraval, um dos maiores homens da Idade Média.
Dentro de quarenta anos foram organizadas quinhentas abadias da sua ordem, onde viviam milhares de homens, muitos dos melhores daquela época.
Nessas abadias, sob a influência da vida de piedade inspirada pelo abade Bernardo, apareceu a vida monacal mais uma vez reformada e digna dos seus mais altos ideais. O mesmo quase se pode dizer sobre as demais ordens.
O monaquismo e o papado
A princípio cada mosteiro reconhecia a autoridade do bispo da diocese em que estava situado. Mas os papas invadiram e usurparam a autoridade do bispo, tanto neste como em outros assuntos e avocaram a si o controle dos mosteiros.
Finalmente a maioria dos monges só reconhecia a autoridade do papa. O monaquismo e o papado, as duas instituições principais da era medieval estavam, então, intimamente ligadas.
Por toda a Europa estavam espalhados milhares de mosteiros, muitos deles possuidores de grandes e riquíssimas propriedades e cheios de homens que não reconheciam outro senhor, senão o papa. Nisto residia o baluarte do grande e indiscutível poder papal.
O trabalho dos monges
Nos séculos XII e XIII a Europa ocidental era muito mais civilizada e organizada do que nos primeiros tempos do monaquismo. Essa a razão por que havia menos necessidade de alguns tipos de serviço que os mosteiros prestaram em eras anteriores.
Contudo, eles continuaram como instituições muito úteis ao mundo. Nunca seremos bastante gratos aos monges pela obra literária que realizaram, escrevendo e publicando inúmeros livros e conservando-os através dos tempos em suas preciosas bibliotecas.
Esses mosteiros também prestaram um grande serviço ao povo. Suas escolas ministravam educação primária gratuita.
Quando surgiram as universidades (cerca do ano 1200), a maioria das pessoas instruídas deixaram os claustros e se alojaram nessas novas instituições, mas as escolas dos mosteiros ainda ministravam o melhor ensino abaixo do nível universitário.
Os seus hospitais cuidavam dos doentes e dos viajantes pobres. Eram generosos em seus auxílios. Em épocas de fome e de pestilência, coisa comum na Idade Média, os doentes e famintos encontravam mais auxílio nesses mosteiros do que noutra parte.
A corrupção nos mosteiros
Sem dúvida houve muita corrupção na vida monacal da Idade Média, a despeito de todas as reformas. O testemunho mesmo de monges e freiras daquela época, não deixava margem a qualquer dúvida.
Todavia, como diz Workman: "É incontestável que até o fim do século XIV, a maioria dos monges, considerados como um todo era sempre melhor do que a época em que viviam".
Neste período que estamos considerando a pior falta nas ordens monásticas não era propriamente a imoralidade pessoal, mas a ambição resultante do acúmulo de riquezas.
Embora os reformadores desses tempos contra ela lutassem, muitos mosteiros tinham adquirido ricas e extensas propriedades que exploravam em benefício próprio.
Muitas dessas propriedades foram doações; outras, conseguidas com o trabalho dos monges. Ricos, eles cuidavam mais das suas riquezas e do conforto pessoal do que do interesse dos outros ou do cultivo da vida espiritual.
No próximo capítulo trataremos das grandes ordens dos Franciscanos e Dominicanos, os quais, embora consideradas monásticas, todavia eram bem diferentes das ordens primitivas.
Por Robert Hastings Nichols
ÍNDICE
ÍNDICE
A preparação para o Cristianismo
01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo
A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100
A Igreja antiga (100 - 313)
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)
A Igreja antiga (313- 590)
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)
A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073)
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja
A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294)
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13a - Inocêncio III
13b - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental
Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)
23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma
Revolução e reconstrução (1517 - 1648)
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria
A era da Reforma (1517 - 1648)
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
38 - A Reforma na Inglaterra
39 - Os Anabatistas
40 - A Contra-Reforma
41 - A Guerra dos Trinta Anos
42 - Missões
O cristianismo na Europa (1648 - 1800)
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda
O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu
O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico
O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929
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