08 - Características da Igreja Antiga (313-590 A.D)


2 – A IGREJA

[a) A extensão da Igreja

1. Nos territórios Romanos
Nos Territórios Romanos Antes de Constantino, o Cristianismo vivia em conflito com o mundo; com ele o Cristianismo passou a dominá-lo. 


Não são muitas as razões, nem claras, para essa mudança de situação. Sem dúvida Constantino sentiu que o Cristianismo não podia ser destruído, pois se fortificava cada vez mais. 

Isso talvez o convenceu de que o Deus dos cristãos era bastante forte e o fez desejar as orações dos cristãos, a fim de alcançar bênçãos para o seu governo.

Sem dúvida percebeu também que se o cristianismo fosse ajudado e se tornasse bastante forte, seria um poderoso elemento para a unificação de todos os povos do império. 

Sem dúvida teve simpatia pessoal pelo cristianismo, mas nunca demonstrou em sua conduta qualquer influência da morai cristã.

Constantino revolucionou a posição do Cristianismo em todos os aspectos. Primeiramente, como já foi dito, ele e Licínio em 313, estabeleceram completa liberdade religiosa que proporcionou igualdade de direito a todas as religiões. 


Depois mostrou-se favorável ao Cristianismo, fazendo ofertas valiosas para construção de igrejas, manutenção do clero e isentando-o dos impostos.

Juntou as águias dos seus estandartes ao lábaro, o símbolo de Cristo. Afinal, entrou ativamente nos assuntos da Igreja, tentando dirimir disputas doutrinárias. Por todo esse tempo não foi cristão professo, pois não recebeu batismo até pouco tempo antes de morrer. 


Ele não tornou o cristianismo a religião oficial do império. A antiga religião do Estado foi mantida e Constantino continuou como seu pontifex maximus ou sumo-sacerdote. Mas seu interesse e auxílio deram ao Cristianismo uma posição de indiscutível prestígio.

A nova situação da Igreja no mundo trouxe-lhe rápido desenvolvimento que foi um bem para ela e, por outro, um grande mal. 


Livre de perseguição, disciplinada e purificada pelas provações por que passou, desenvolveu poderosamente a sua obra, tanto nos antigos como nos novos campos de trabalho. 

Dentro do império, muitos da antiga população não eram cristãos, e inúmeros pagãos bárbaros vieram se estabelecer no império. 

Muitos bispos cristãos pregavam aos descrentes em suas dioceses e encorajavam o trabalho missionário em toda a parte.

Na França central, no IV século. Martinho, bispo de Tours, homem dotado de grande eloqüência e caridade extraordinária, fortaleceu grandemente o cristianismo, por seu incansável labor, auxiliado por discípulos preparados nos mosteiros que ele mesmo fundara. 


Ao mesmo tempo realizava uma extraordinária obra missionária entre os godos, nas regiões do Baixo Danúbio. 

Traduziu grande parte da Bíblia para a língua desses povos, preparando antes um alfabeto apropriado. Principalmente por causa desse trabalho, os visigodos, quando capturaram Roma em 410, já eram cristãos.



As obras de filantropia da Igreja, seus hospitais, hospícios para estrangeiros, orfanatos, auxilio às viúvas e aos pobres, atraíram muita gente, embora muitos não fossem realmente convertidos. Naquela sociedade que se desintegrava, no IV e no V séculos, a Igreja era o único refúgio e esperança dos pobres. 


Em parte, por motivo desses esforços da Igreja, o cristianismo espalhou-se rapidamente nesses séculos, nas partes do império onde a religião ainda não se tinha firmado, especialmente na Grécia, alto Egito, norte da Itália, Espanha, França e nas terras ao longo do Reno e do Danúbio. 

Na Britânia, onde o Cristianismo já tinha penetrado desde antes do ano 300, surgiu no IV século uma igreja vigorosa.

Além dos esforços da Igreja o poder oficial contribuiu para o número de cristãos se dilatar. Este benefício foi, porém, duvidoso. 


Logo que Constantino se constituiu patrono do Cristianismo, este tornou-se uma religião eivada de heresias e de inovações. Os sucessores desse imperador seguiram seu exemplo e com mais ênfase. 

Eles sustentavam o cristianismo, interferiam e exerciam autoridade nos negócios da Igreja. Desse modo o cristianismo, embora não o fosse em nome, veio a ser praticamente a religião oficial do império.

Isto resultou na entrada de muita gente para a Igreja somente por ser a religião apoiada pelo governo. Esta posição ao cristianismo sofreu um colapso no governo de Juliano (361-363), que tentou, num esforço inútil, restaurar o paganismo. Diz a história que ao aproximar-se da morte e vendo sua luta perdida, disse: “Venceste, Galileu!”.

Poucos anos depois (380), Teodósio, imperador cristão do oriente, baixou um decreto pelo qual todos os súditos do império deveriam aceitar a fé cristã como estabelecida pelo Concílio de Nicéia. 


Continuou com essa política até que se tornou governador do mundo romano, em 392. Assim o Cristianismo veio a ser uma parte da lei imperial. Esse ato deu, naturalmente, o golpe da morte no paganismo dentro do império.

Muitos templos pagãos e ídolos foram destruídos e pelo ano 400 o culto pagão havia desaparecido. Isto parecia uma vitória extraordinária, pois a religião que havia um século tinha sido perseguida tenazmente, tornava-se a religião oficial do império. 


Na realidade, tal situação não constituía uma vitória, pois o novo estado de coisas veio provar que nas igrejas havia multidões que nada conheciam do Cristianismo, nem o possuíam.

2. Fora dos Territórios Romanos
O Cristianismo estendeu-se extraordinariamente muito além das fronteiras do império romano. Na Mesopotâmia havia muitos cristãos do credo Nestoriano de que trataremos mais adiante. 


Provavelmente a própria índia foi alcançada pelas alturas de ano 500. Na Etiópia o Evangelho entrara antes de 350. No século seguinte alcançou a Irlanda, o limite mais ocidental do mundo de então.

Ali o notável pioneiro foi Patrício, embora outros cristãos tivessem estado ali antes dele. Nascido na Britânia, de pais cristãos, foi, na infância, capturado pelos piratas irlandeses e levado como escravo para a Irlanda. Conseguiu fugir para a França, vivendo certo tempo num mosteiro e voltando depois à Britânia. 


Mas vivia dominado pelo desejo de evangelizar os irlandeses que tinham sede de Cristo. "Parecia ouvir a voz dos habitantes da floresta Fochlad, chamando-me a ir ter com eles". Mais tarde, depois de alguns anos de estudo na França, foi para a Irlanda, em 433. 

Ali, por trinta anos, foi um missionário de singular devoção, de vida profundamente cristã e pôde lançar naquela terra duradouros alicerces cristãos.

Enquanto isto, no sudeste da Escócia, Ninian um notável missionário fazia um grande trabalho. Os fundamentos desse trabalho, porém, foram lançados por Columba que logo depois do ano 550, conduziu uma companhia de monges irlandeses para uma pequena ilha, Iona, na costa oriental da Escócia. 


Do mosteiro ali estabelecido, Columba e seus companheiros partiram para seu trabalho missionário que se espalhou largamente pela Inglaterra e Escócia, estendendo-se depois ao continente: França, sul da Alemanha e Suíça. Nenhuma narrativa da história cristã primitiva tem mais brilho do que a história do trabalho desses monges irlandeses e escoceses. 

Seu ensino tinha uma simplicidade apostólica raramente encontrada em outra parte e suas vidas eram de uma pureza e consagração extraordinárias.

Isto contrasta chocantemente com um trabalho missionário que encontramos no V século, trabalho de cristianização superficial de um povo. Clóvis, rei do Franços, tinha uma esposa cristã que de há muito tentava convertê-lo. 


Achando-se ele em apertos numa batalha, fez o voto de tornar-se cristão, caso Cristo o auxiliasse a conseguir a vitória. Alcançando-a, declarou-se cristão e obrigou o seu povo a aceitar o Cristianismo.

No Natal de 496, ele e três mil dos seus guerreiros foram batizados. Foi assim que as mais poderosas tribos germânicas tornaram-se nominalmente cristãs. A história posterior de Clóvis e dos francos prova que esse cristianismo era realmente superficial.



[b] A vida na Igreja
A nova posição da Igreja aliada ao século, de modo algum foi benéfica à sua vida. A entrada de multidões nas igrejas impediam-na de manter aquela vigilância e aquele escrúpulo necessários ao preparo e exame cuidadoso dos candidatos, como sempre o fizera. A maioria dos que entravam para a Igreja era realmente pagã, gente de vida reprovável.

Era natural que aparecesse uma queda no nível moral do caráter cristão. Para enfrentar esta situação, a Igreja desenvolveu sua disciplina, isto é, seu método de tratar as ofensas contra a moral, etc. 


No entanto, as pessoas só eram instruídas quanto aos deveres da vida cristã, depois de entrarem na Igreja, em vez de o serem antes.

Para certos atos julgados imorais, havia penas severas; para ofensas menores, havia penitências, tais como: confissões públicas, jejuns e orações; para as faltas mais graves, havia a excomunhão.

Por esse tempo, muitíssimos cristãos sinceros tornaram-se ansiosos por uma vida mais elevada, mais piedosa do que a que existia ao redor deles. 


Foi por isso que surgiu uma forma de vida que estava destinada a se tornar uma das mais poderosas forças na história da cristandade - o monasticismo. O que levou homens a se tornarem monges foi o desejo de salvação. 

Sob dois aspectos a vida do claustro parecia um meio mais seguro de salvação, do que a vida comum dos demais homens. Era uma vida separada do mundo, portanto, pensava-se, livre dos embaraços que a vida cristã encontra na sociedade.

Nos primeiros séculos, os cristãos viviam numa sociedade pagã cheia de tentações. Depois que a sociedade tornou-se nominalmente cristã, continuou por muito tempo praticamente pagã. Além disso, a Europa esteve por muitos séculos em guerras constantes.


Na Igreja mesmo havia muita maldade. Os que de desejavam fortemente uma vida cristã mais profunda começaram a pensar que o único meio de alcançá-la seria fugir da vida comum da sociedade.

Em segundo lugar, a vida monástica oferecia uma oportunidade de se alcançar a santidade pela completa negação dos desejos. Tudo girava em torno do pensamento que o mal estava na matéria, inclusive o próprio corpo. 


Portanto, acreditava-se que se podia obter a santidade libertando, até onde possível o espírito do corpo. E isto se conseguia, negando-se ao corpo o que este desejasse.

Uma forma muito apreciada de negação pessoal era a da completa pobreza. Chegou-se, assim, a pensar que a verdadeira vida religiosa, tanto para homens como para mulheres, seria dar de mão a todos os bens viver em pobres alojamentos, vestir-se sem conforto, alimentar-se muito pouco, dormir pouco, flagelar-se em penitência, viver em celibato.

Desde o segundo século havia no oriente, especialmente no Egito, milhares de monges ermitões, morando em lugares desertos e vivendo em extrema pobreza Eram considerados, pela maioria, como homens peculiarmente santos. 


No IV século a idéia monástica chegou ao ocidente. Ganhou logo popularidade e muitos homens e mulheres tornaram-se monges e freiras. No ocidente, porém, a vida monástica tomou uma forma diferente da do oriente. 

O monge típico do oriente era um solitário; no ocidente ele era membro de uma comunidade. Homens e mulheres abandonavam a vida da sociedade e entravam em comunidades favoráveis à vida cristã, governados por uma rígida disciplina.

Na parte oriental da Igreja, a vida monástica era social, uma vida de irmandade, de fraternidade cristã em que todos os bens eram comuns e quase todas as coisas eram feitas em comum.

No VI século, a famosa regra beneditina foi organizada por Bento de Nursia na Itália. Em pouco tempo, em todo o ocidente, ela tornou-se praticamente a lei geral da vida monástica.

Bento verificou que a vida dos monges precisava de direção e pureza e tentou alcançar esses elementos por meio da sua regra ou sistema monástico. Nela, o voto feito pelo monge era por toda a vida de modo que a pessoa morria para o mundo.

Requeria-se o abandono de todas as propriedades. Eram prescritas as virtudes que deveriam cultivar: Abstinência, obediência aos superiores, silêncio, humildade, etc.

Os deveres eram também prescritos detalhadamente, dividindo-se o tempo entre o culto, os trabalhos manuais em casa, trabalhos nos campos e estudos.

A reforma produzida pelas regras disciplinares deu grande popularidade à vida monástica, ensejando o aparecimento de muitos novos mosteiros que se enchiam, tão prontas estivessem as novas edificações. O monasticismo estava pronto para realizar a sua grande obra no início da Idade Média.



[c] A Crença da Igreja
O IV e o V séculos foram o principal período da história da Igreja no que respeita à manifestação da sua crença. Foi nesta época que surgiram os credos ainda hoje aceitos pelos cristãos de todo o mundo.

No período precedente, como vimos, Jesus Cristo era o assunto fundamental do pensamento da Igreja. A discussão quanto à natureza de Cristo crescia cada vez mais; especialmente no oriente, onde a influência grega produziu um profundo interesse em questões de doutrina.

No começo do século IV, Ário, presbítero de Alexandria, ensinou que Cristo nem era homem nem Deus, mas um ser intermediário entre a divindade e a humanidade.

Tal ponto de vista espalhou-se rapidamente no oriente. A disputa sobre este assunto dividiu a Igreja e causou mesmo perturbação da ordem pública.

A fim de pacificar os ânimos, Constantino convocou o primeiro Concílio geral da igreja, em Nicéia, na Ásia menor, 325. Ali, Atanásio teve uma grande vitória. Ele foi o principal oponente de Ário e seu partido.

O Concílio afirmou a divindade de Cristo, pela qual lutou Atanásio, e foi declarado que Cristo “era da mesma substância do Pai". Foi grande a influência do imperador na decisão. Ao mesmo tempo ela correspondia com o pensamento de quase todos os bispos.

Durante a intensa disputa teológica no Concílio, verificou-se que a maioria dos bispos não era composta de teólogos, mas de pastores: e o que os influenciou foi o apelo feito por Atanásio à fé, à convicção deles – o resultado de sua experiência cristã. Eles criam que o Cristo a quem conheciam com Redentor não podia ser senão Deus.

O Credo aceito pelo Concílio constitui a maior parte do chamado Credo Niceno, o qual foi confirmado pelo da Calcedônia no século seguinte. O ensino desse credo tem sido aceito desde então por toda a Igreja Cristã.

A questão da divindade de Cristo tendo sido vitoriosa, a discussão voltou-se para o assunto da relação entre a sua natureza divina e humana. Foram tremendas as divergências de opinião que chegaram a provocar divisões na Igreja.

O quatro Concílio Geral da Calcedônia, 451, apresentou o pronunciamento final da Igreja sobre este assunto declarando que em Cristo as duas naturezas, a divina e a inumana, existiam em plena integridade.

As grandes verdades que são vitais à fé cristã, como as da Encarnação e da Trindade foram examinadas e expressas pela Igreja nessa “Era dos Concílios”.

Tais decisões têm sido aceitas desde então pela cristandade. Ao lado dessa vitória surgiu um prejuízo, em virtude da tendência de se pensar que a coisa mais importante no Cristianismo era defender e guardar as definições corretas da verdade cristã.

A prova da fé cristã de uma pessoa não era tanto sua lealdade a Cristo, em espírito e pelo comportamento moral, senão a sua aquiescência ao que a Igreja declarava ser a doutrina correta, isto é, a sua ortodoxia.

Quem não fosse considerado ortodoxo era expulso como herege, embora sua vida fosse um testemunho contínuo de lealdade a Cristo.

Dois grandes homens que influenciaram profundamente o pensamento de toda a vida da Igreja foram Jerônimo e Agostinho. Jerônimo nasceu em 340, na Panônia, nas proximidades da atual Viena.

Converteu-se ao Cristianismo com mais ou menos 25 anos de idade, quando era estudante em Roma. Depois de viver algum tempo em companhia de alguns amigos, dedicou-se ao estudo das Escrituras e à prática monástica, indo passar vários anos, feito monge, num deserto perto de Antioquia.

Ali passou muitas dificuldades mas sempre estudando. Indo para Roma, continuou ali os seus estudos. Em razão do seu grande amor ao cristianismo, poder intelectual e extraordinário raciocínio, exerceu grande influência na aristocracia romana, particularmente entre algumas mulheres da nobreza.

Em 385, entusiasmo pela vida monástica o levou a viver numa cela de certo mosteiro de Belém. Ali viveu até sua morte em 420, estudando e escrevendo. A principal das suas obras foi a tradução que fez da Bíblia.

O Velho Testamento foi pela primeira vez vertido para o latim, diretamente do hebraico, e a então existente tradução latina do Novo Testamento foi cuidadosamente revista.

Desde modo, Jerônimo deu ao mundo uma das versões das Escrituras mais largamente usadas, que foi depois conhecida como a Vulgata, a Bíblia da Idade Média. Revista depois, ainda hoje e aceita pela Igreja Católica como o texto autorizado das Escrituras.

Em adição a esse trabalho, Jerônimo escreveu comentários, tratados de teologia, livros em defesa da vida monástica e inúmeras cartas.

Agostinho descreveu sua vida de jovem no seu maravilhoso livro intitulado "Confissões". Nasceu no Norte da África em 345. Sua mãe foi uma mulher de vida cristã muito profunda. Ele porém não lhe seguiu o exemplo na mocidade.

Aos trinta anos era um mestre brilhante de retórica e oratória em Cartago. Não obstante ter meditado bastante em assuntos religiosos, era, praticamente, irreligioso, e sua vida era inútil e vergonhosa, segundo os padrões morais então existentes. Da África foi a Roma para ensinar e daí a Milão.

Nesta cidade a pregação de Ambrósio, o nobre bispo abalou-o profundamente. Começou a estudar o cristianismo e quase se tornou persuadido Mas ainda não estava pronto para seguir inteiramente a Cristo.

Um dia um seu amigo cristão falou-lhe sobre Antônio, o famoso monge egípcio, e como dois seus amigos se tinham convertido pelo estudo da vida do mesmo.

Noutra ocasião estranhamente abalado, correu para o jardim da sua casa, ouvindo ali uma criança do vizinho dizer-lhe: "Tolle, lege", (toma e lê). Tomou um volume das Epístolas de Paulo e, ao abri-lo, seus olhos encontraram Romanos 13:13,14. Isto o fez decidir-se por Cristo e, em 387, foi recebido à Igreja.

Entre Paulo e Lutero, o Cristianismo teve, em Agostinho, o maior dos seus mestres cuja influência ainda permanece em ambas as partes da Cristandade: no Protestantismo e Catolicismo.

Oito anos após a sua conversão, Agostinho tornou-se bispo de Hipona, uma das mais importantes cidades africanas.

Ali passou 35 anos devotado ao seu povo e escrevendo livros sobre vários aspectos da verdade cristã. Teve sérias dificuldades com os donatistas, grande corpo de cristãos que estava separado da Igreja Católica, e que possuía igreja própria.

A separação realizara-se muitos anos atrás, porque os donatistas pensavam que a Igreja fora excessivamente tolerante para com os que negavam a fé nos tempos de perseguição e que, por isso, tinha perdido o caráter de verdadeira Igreja.

Pela sua argumentação e influência pessoal, Agostinho ganhou muitos deles. Infelizmente a insensatez e a violência de outros o levaram a sancionar o uso da força imperial para compelir os desviados a voltarem à Igreja.

O pensamento de Agostinho sobre os donatistas deu origem à sua influente doutrina sobre a igreja, doutrina que foi fundamentalmente importante para a Igreja Católica, tanto na Idade Média, como na época atual.



[d] O Culto na Igreja
A liberdade que o cristianismo desfrutava e o desenvolvimento das suas riquezas deram origem a importantes formas de culto que seguiram certas linhas já pré-estabelecidas. Surgiram muitas liturgias e formas de oração.

O elemento, musical do culto tornou-se mais notável. Foram introduzidos coros nas igrejas, cânticos e antífonas. Apareceram nesse tempo muitos hinos, entre os quais, no IV século, o Te Deum. Os templos tornaram-se maiores e cheios de decorações.

Desenvolveu-se a arquitetura, as paredes e as colunas das igrejas cobriram-se de pinturas, mosaicos e desenhos. Os cultos se tornaram solenes e impressionantes.

Agostinho narra como ficou bem impressionado na magnífica igreja de Ambrósio, em Milão, com a música solene, com o ritual, com a reverência das multidões, e com a notável pregação do bispo.

A celebração da Eucaristia tornou-se uma cerimônia imponente com formas fixas, com muita atenção dispensada aos detalhes, tornando enfática a ideia de que o sacramento era um sacrifício oferecido pelo sacerdote a favor do povo, sacrifício eficaz para a salvação.

Não obstante este fato tornar a pregação menos importante, colocando-a em plano secundário, houve nessa época grandes pregadores entre os quais Ambrósio, que teve a coragem de proibir o imperador Teodósio de entrar na igreja até que se arrependesse do massacre dos tessalonicenses; e João de Constantinopla cuja eloquência lhe granjeou o título de Crisóstomo ou “boca de ouro".

O paganismo afetou o culto cristão nesses séculos porque a Igreja viveu no meio desse paganismo até 400 A.D. e também porque, depois de Constantino, muitos pagãos entraram na igreja, sem conversão.

O culto dos santos é um exemplo frisante dessa tendência. Era natural que se tributasse veneração aos mártires e a outros homens e mulheres, famosos por sua santidade.

Para essa gente que estava acostumada aos deuses das suas cidades e aos seus lugares sagrados e que não estava bastante cristianizada, a veneração dos santos transformou-se rapidamente em adoração.

Os santos passaram a ser considerados como pequenas divindades cuja intercessão era valiosa diante de Deus.

Os lugares onde nasceram e viveram, passaram a ser considerados santos. Surgiram as peregrinações. Começaram a venerar, relíquias, partes dos corpos e objetos que pertenceram aos santos e a atribuir a esses objetos poderes miraculosos.

Tudo isto foi fácil para aqueles que ainda persistiam nas superstições do paganismo. A idéia do culto dos santos foi mais acentuada no caso da Virgem Maria. Ao fim, deste período já o culto da Virgem estava vitorioso.

[e] A Organização da Igreja

1. Como a Igreja se tornou Católica
Neste período apareceu um governo geral da Igreja Católica nos concílios gerais ou ecumênicos. A autoridade desses concílios era exercida pela publicação dos credos que decidiam quanto à doutrina aprovada peia Igreja Católica.

Tais concílios eram, em teoria, compostos de todos os bispos, embora nem todos estivessem presentes aos concílios do IV e do V séculos.

O engrandecimento do ofício do bispo tinha ido tão longe que se considerava a Igreja constituída somente deles; a Igreja era o bispo e aqueles em comunhão com ele.

Quando a reuniam todos os bispos, julgava-se que a Igreja toda estava reunida. Daí julgar-se que um concílio de bispos tinha a direção do Espírito Santo prometido à Igreja.

Temos visto na Igreja Católica um processo de centralização de autoridade com o aparecimento do bispo com caráter monárquico, isto é, do bispo que a princípio é somente o dirigente de uma igreja e depois aparece como o governador de uma diocese. Por essa época a idéia de diocese tomou grande desenvolvimento, tornando cada vez maior o poder dos bispos.

Mais adiante, os bispos das capitais das províncias romanas tornaram-se, naturalmente mais importantes que os demais. Foram chamados bispos metropolitanos e cada um exercia superintendência sobre os demais bispos e suas dioceses.

Com um passo mais adiante na centralização, cinco bispos se levantaram acima dos demais, e foram considerados patriarcas, e que eram: o bispo de Roma, o de Constantinopla, o de Alexandria, o de Antioquia e o de Jerusalém.

Pelo ano de 400 já se verifica o completo desenvolvimento da Igreja Católica, com sua organização hierárquica completa, o clero exercendo demasiado domínio espiritual sobre o povo, os concílios criando leis eclesiásticas, o culto impressionante e cheio de mistérios, seus dogmas autoritários e a condenação, como hereges, dos dos cristãos que não concordam ou não se conformam com eles.

Além disso, foi aceita a doutrina de Agostinho a respeito da Igreja Católica. Ele cria que os primeiros bispos da Igreja foram escolhidos pelos apóstolos.

Estes receberam de Jesus os dons do Espírito Santo para cuidarem da Igreja e legaram esses dons aos seus sucessores, os primeiros bispos, que receberam seus encargos numa sucessão regular, possuindo, todos eles, desde o primeiro, a plenitude desses dons do Espírito.



Por essa razão, somente eles preservaram a fé pura e original e podiam, por isso, ministrar o verdadeiro ensino cristão que conduz à salvação.

Mais ainda: unicamente eles foram os guardas dos verdadeiros sacramentos, por meio dos quais vêm os homens à divina graça salvadora.

Agostinho ensinava que a verdadeira Igreja se caracterizava por seus bispos possuírem a legítima sucessão apostólica. Somente na Igreja Católica, a Igreja desses bispos havia salvação.

2. Engrandecimento do Bispo de Roma
Ainda um novo passo foi dado para a centralização do governo da Igreja. Entre os cinco patriarcas, os dois mais importantes eram: o de Roma e o de Constantinopla, as duas principais cidades do império. Muitas foram as causas que contribuíram para o engrandecimento do bispo de Roma.

A principal é que ele era o bispo da antiga capital do mundo. Por muitos séculos Roma impôs sua autoridade sobre o mundo inteiro. Inevitavelmente, seu bispo dispunha de um poder que nenhum outro poderia conseguir.

Outra causa foi o costume mais e mais acentuado de se apelar para o bispo de Roma nas disputas eclesiásticas.

Tal hábito não deixava de ter seu apoio na influência e prestígio com que os imperadores cercavam esses bispos. A partir do V século, a conhecida pretensão petrina ou papal (1), veio a ser geralmente aceita.

Essa pretensão é baseada na suposta autoridade que Cristo deu a Pedro sobre os demais apóstolos, e que Pedro foi o primeiro bispo de Roma, legando seu primado aos seus sucessores naquela igreja, de modo que eles tinham o direito divino da autoridade, da primazia sobre os demais bispos.

A geral aceitação dessa doutrina criou condições tais no mundo, como se a mesma fosse verdadeira. Além de tudo, os bispos romanos prosseguiram numa política persistente de manter toda a autoridade que pudesse alcançar, aproveitando cada oportunidade por exercerem, em toda a plenitude, a autoridade e o poder de que dispunham.

Um exemplo notável desse proceder foi o de Leão I (440-461), chamado por muitos "o primeiro papa". Ele sustentou e defendeu a sua autoridade nos termos mais fortes e exerceu o direito de impor as suas ordens aos bispos de toda a parte.

Não obstante suas pretensões serem posteriormente negadas pelos bispos de Constantinopla e encontrarem forte resistência no ocidente, sua agressividade fez aumentar ainda mais o poder do seu ofício.

3. Igrejas que se separam da Católica
Neste período algumas igrejas se separaram da Igreja Católica por causa de questões teológicas e outras causas políticas e raciais.

No V século, Nestório, patriarca de Constantinopla, foi condenado pela Igreja e banido pelo imperador sob a acusação de heresias quanto à pessoa de Cristo. Suas idéias foram aceitas por muitos cristãos da cidade síria de Odessa.

Os “nestorianos” eram sem dúvida crentes em Cristo. Diferiam da Igreja Católica unicamente por explicarem a divindade de Cristo de um modo que não era considerado ortodoxo.

Banidos de Odessa e e acusados de heresia pelo imperador, foram para a Pérsia. Ali fortaleceram grandemente o cristianismo.

Foi organizada uma igreja independente, chefiada por um arcebispo que, em 498, tomou o título de Patriarca do Oriente, Os nestorianos eram cheios de zelo missionário. Onde quer que fossem, quer à procura de refúgio, levavam o Evangelho, razão por que a Igreja deles cresceu rapidamente na Ásia.

Por causa das discussões sobre a natureza de Cristo surgiu outro surgiu outro partido que defendia opiniões não ortodoxas sobre esse assunto.

Foi o partido religioso dos monofisitas, cujos membros ensinavam que em Cristo só havia uma natureza, em vez de duas, a divina e a humana, como afirmara o credo da Calcedônia.

Surgiram três Igrejas desse partido: a Igreja da Armênia, que teve início no III século, recusava-se a aceitar os credos da Calcedônia; separou-se e continuou assim até os tempos atuais. A Igreja Jacobita que apareceu no VI século, na Ásia Menor, Síria e Mesopotâmia.

Nestes dois últimos lugares ainda existe, mas muito enfraquecida. A Igreja Copta, compreendendo quase todos os cristãos não-gregos do Egito. Esta foi condenada pela Igreja Católica como herética e permanece separada.

Por Robert Hastings Nichols

ÍNDICE

A preparação para o Cristianismo

01 - A contribuição dos Romanos, Gregos e Judeus
02 - Como era o mundo no surgimento do cristianismo

A fundação e expansão da Igreja
03 - Jesus e sua Igreja
04 - A Igreja Apostólica Até o Ano 100

A Igreja antiga (100 - 313) 
05 - O mundo em que a Igreja vivia (100 - 313)
06 - Características da Igreja Antiga (100-313)

A Igreja antiga (313- 590) 
07 - O mundo em que a Igreja vivia (313 - 590)
08 - Características da Igreja Antiga (313-590)

A Igreja no início da Idade Média (590 - 1073) 
09 - O mundo em que a Igreja vivia (590-1073)
10 - Características da Igreja no início da Idade Média 
11 - O cristianismo em luta com o paganismo dentro da Igreja

A Igreja no apogeu da Idade Média (1073 - 1294) 
12 - A Igreja no Ocidente - O papado Medieval - Hildebrando
13 - Inocêncio III
13 - A Igreja Governa o Mundo Ocidental
14 - A guerra da Igreja contra o Islamismo - As cruzadas 
15 - As riquezas da Igreja
16 - A organização da Igreja
17 - A disciplina e a lei da Igreja Romana
18 - O culto da Igreja
19 - O lugar da Igreja na religião
20 - A vida de alguns líderes religiosos: Bernardo, Domingos e Francisco de Assis
21 - O que a Igreja Medieval fez pelo mundo
22 - A igreja Oriental

Decadência e renovação na Igreja Ocidental (1294 - 1517)

23 - Onde a Igreja Medieval falhou
24 - Movimentos de protesto: Cataristas, Valdeneses, Irmãos
25 - A queda do Papado
26 - Revolta dentro da igreja: João Wycliff e João Huss
27 - Tentativas de reforma dentro da Igreja
28 - A Renascença e a inquietude social como preparação para a Reforma

Revolução e reconstrução (1517 - 1648) 
29 - A Reforma Luterana
30 - Como Lutero se tornou reformador
31 - Os primeiros anos da Reforma Luterana
32 - Outros desdobramentos da Reforma Luterana
33 - A Reforma na Suíça - Zuínglio
34 - Calvino - líder da Reforma em Genebra
35 - A Reforma na França
36 - A Reforma nos Países Baixos
37 - A Reforma na Escócia, Alemanha e Hungria
O cristianismo na Europa (1648 - 1800)
43 - A França e a Igreja Católica Romana
44 - A Igreja Católica Romana e a Revolução Francesa
45 - O declínio religioso após a Reforma
46 - O Pietismo
46 - A Igreja Oriental
47 - A Regra Puritana
48 - Restauração
49 - Revolução
50 - Declínio Religioso no começo do século 18
51 - O Reavivamento do Século 18 e seus resultados
52 - Os Pactuantes (Covenanters)
53 - O Século 18 na Escócia
54 - O Presbiterianismo na Irlanda

O Século 19 na Europa
55 - O Catolicismo Romano
56 - O Protestantismo na Alemanha, França, Holanda, Suíça, Escandinávia e Hungria
57 - O Movimento Evangélico na Inglaterra
58 - O Movimento Liberal
59 - O Movimento Anglo-Católico
60 - As Igrejas Livres
61 - As Igrejas na Escócia: despertamento, descontentamento e cisão
62 - As missões e o cristianismo europeu

O Século 20 na Europa
63 - História Política até 1935
64 - O Catolicismo Romano
65 - O Protestantismo no Continente
66 - A Igreja da Inglaterra
67 - As Igrejas Livres 
68 - A Escócia
69 - A Igreja Ortodoxa Oriental
70 - Outros países orientais
71 - O Movimento Ecumênico

O cristianismo na América
72 - As primeiras tentativas
73 - As Treze Colônias
74 - Reconstrução e reavivamento após a Guerra da Independência
75 - O Século 19 até 1830
76 - 1830 - 1861
77 - 1861 - 1890
78 - 1890 - 1929

Semeando Vida

Profundidade Teológica e Orientação Espiritual para Líderes e Estudiosos da Fé

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