1 João: Permanência (8)



1 João 2.27-29

Nos versículos 18-26, João atacou diretamente os anticristos. Estes eram os falsos mestres que ensinavam que Cristo não havia se manifestado em carne.

O objetivo deles era enganar os crentes. Nesses versículos, João dá continuidade àquilo que já havia começado a abordar – a saber, a permanência. 

O verbo permanecer é muito utilizado por João. Ele aparece 24 vezes nessa carta. O sentido básico apresentado por João é: Morar, habitar, de forma firme e inabalável (LOPES, p. 80, 2005).

Em outras palavras, significa ficar firme na doutrina recebida e não seguir novos pensamentos. Sendo assim, vejamos como João trabalha esse princípio da permanência nos vv. 27-29. 

1. Permanência evidencia a presença do Espírito (v. 27). 
 “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou”.

A palavra unção do grego “chrisma” é uma referência à presença permanente do Espírito na vida do crente.

Esse Espírito ensina o que é verdadeiro ao crente. Sendo assim, segundo João, aqueles crentes não precisavam que os gnósticos os ensinassem a verdade. A verdade já estava neles por conta do Espírito. 

Por isso João escreve: “e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa”. Portanto, cabia àqueles crentes não ouvir a mentira ensinada pelos falsos mestres, mas deveriam permanecer no ensino do Espírito.

Essas palavras de João nos conduzem à reflexão de dois pontos importantes. 

1) João ensina claramente que o crente tem em si o Espírito Santo que o conduz na verdade. No entanto, isso não quer dizer que os crentes não precisem de mestres. Se por um lado temos o Espirito que nos conduz às verdades essenciais para salvação, por outro, precisamos daqueles que se dedicam ao ensino. 

Por que precisamos dessas pessoas? 

Para nosso aperfeiçoamento, para que saibamos como servir ao Senhor com excelência e para que toda a igreja cresça. Paulo deixa claro isso ao escrever: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11-12). 

2) A presença do Espírito no crente não exclui sua responsabilidade quanto àquilo que ele ouve. Augustus Nicodemus, ao comentar esse texto escreve: “João não está dizendo que os crentes podem ficar tranquilos de que jamais cairão em erro por causa da presença do Espírito.

A consciência desta benção deve levar o cristão ao esforço de permanecer firme em Cristo, sem dar ouvidos aos falsos mestres e às suas heresias” (LOPES, p. 82, 2005).



2. A permanência se relaciona com a eternidade (v.28). 
João continua seu raciocínio escrevendo: “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda”. Aqui, ele descreve duas situações na volta de Cristo. 

A primeira é reservada para aqueles que permanecerem fiéis através da fórmula: “tenhamos confiança”. “Confiança” aqui significa consciência tranquila diante de Deus, visto que não houve afastamento de Deus. Em outras palavras, não há o que temer. 

Naturalmente, essa permanência é obra da graça de Deus. A outra situação é reservada para os infiéis. João usa a expressão “envergonhados”. Aqui ela significa que na volta de Cristo a maldade dos atos e dos ensinos dos falsos mestres se tornarão públicos para a vergonha deles. A consequência será a perdição eterna.

Isso alerta os cristãos para a seriedade a respeito da fidelidade à sã doutrina. Ser fiel à doutrina cristã é mais do que ser fiel à instituição religiosa, a pastor ou à família. Ser fiel à doutrina cristã é ser fiel ao próprio Cristo. Fidelidade a Cristo não tem efeitos apenas nessa terra, mas, principalmente, tem efeitos eternos. 

Ser fiel aos ensinamentos de Jesus significa salvação. Por outro lado, a rebeldia resulta na condenação. A Escritura é clara a esse respeito: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36). 

Portanto, tenha cuidado se você deseja o que é inovador, o que é revolucionário e o que traz resultados imediatos ou o que mais agrada aos seus ouvidos. Não são poucos que na história da igreja trocaram as doutrinas da graça por inovações. Que Deus nos guarde para que não façamos o mesmo. 

3. A permanência evidencia novo nascimento (v.29). João deixa claro isso através das seguintes palavras: “Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele”. Em seu evangelho João fala de dois tipos de nascimento. 

Aquele nascimento natural no qual uma pessoa é gerada no ventre materno e outro tipo de nascimento que é aquele onde uma pessoa se arrepende de seus pecados e converte-se a Cristo Jesus. Este é o nascimento espiritual ou o nascimento de Deus. Isso porque o arrependimento e a fé para a salvação são obras de Deus. 

Quem nasce de Deus participa de sua natureza; isto é, passa a imitá-lo através da obediência à sua palavra. É por isso que João deixa claro que quem pratica a justiça é nascido dele. Em seu coração é inscrita a sua lei e nela há alegria (cf. Ez 36.27; Sl 1.2). Sendo assim, de acordo com João, a fidelidade à doutrina de Cristo era a evidência de uma conversão sincera. 



Essas palavras são de extrema relevância para nossa reflexão. Eis alguns princípios importantes.

1) A reação diante do ensino da sã doutrina é fundamental para verificar se há conversão sincera ou não. Uma atitude de não suportar a sã doutrina em muitos casos evidência de que ainda não houve novo nascimento. 

Qual tem sido nossa reação diante do ensino de que a Bíblia, somente a Bíblia é a única forma de conhecermos a Deus? Qual tem sido a reação diante da afirmação de que não há nada que o homem possa fazer para ser salvo a não ser por meio da fé em Jesus? Qual tem sido a reação diante do ensino de que o homem nasceu em pecado, está morto por causa do pecado e precisa de Jesus para sair dessa situação?

2) Precisamos ter cuidado com o tipo de influência que temos recebido na igreja. Nem todas as pessoas da igreja são cristãs e às vezes os conselhos dados por essas pessoas e o que elas fazem, ao invés de nos aproximar do ensino de Jesus, acabam por nos afastar deles. De acordo com João, afastar-se do ensino de Cristo é o mesmo que afastar-se do próprio Cristo. Portanto, fique atento aos frutos dessa pessoa. 

3) Não existe obediência sem conversão. Às vezes cobramos algumas pessoas da igreja para serem obedientes, mas talvez seja necessária outra abordagem. É necessário que se pregue a conversão e não santificação. Não esqueçamos o que foi dito acima: Nem todos os que estão na igreja, são de fato, cristãos. 

Conclusão
Qual deve ser a relação dos cristãos com os anticristos? João responde de maneira instrutiva. Ele fala que o cristão deve permanecer fiel a Cristo. A permanência evidencia a presença do Espírito. Essa permanência relaciona-se com a eternidade. A permanência evidencia o novo nascimento. Que o Senhor da Graça nos ajude para que permaneçamos firmes em nossa confissão.


Mais sermões em 1 João
01 - A encarnação de Cristo - 1 João 1-4
07 - Os Anticristos - 1 João 2.18-26
08 - Permanência - 1 João 2.27-29
11 - O amor ao próximo (1) - 1 João 3.11-16
12 - O amor ao próximo (2) - 1 João 3.17-21
16 - A comunhão com Deus - 1 João 4.13-16
17 - O amor a Deus - 1 João 4.17-21

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