1 João: O amor ao próximo (11)



1 João 3.11-16

Na passagem anterior (3.7-10), João demonstra que os filhos de Deus são aqueles que amam o próximo. Isso tem como objetivo desmascarar os falsos mestres que ensinavam que o socorro ao próximo era algo que devia ser desconsiderado. 

Segundo eles, por que haveria a necessidade de socorrer as pessoas em suas necessidades se a matéria é má? A matéria deve perecer. Tal ensino contraria a Escritura.

João, nos versículos seguintes fala sobre o exercício do amor ao próximo por parte dos filhos, de modo que o amor é a evidência da conversão genuína. Vejamos o que o apóstolo escreve:

1. O amor é uma ordem (v. 11-13). 
“Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia”.

João apela para o ensino dos apóstolos que reproduziam o de Jesus. O conteúdo de tal ensino é que os cristãos devem amar uns aos outros. Jesus disse: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15.12).

O amor demonstrado pelos cristãos não pode ser como aquele tipo de amor demonstrado por Caim que, brutalmente assassinou seu irmão. Segundo João, as boas obras de Abel despertou o ódio de Caim. Abel foi homem de fé e Deus se agradou de suas ofertas (Hb 11.4; Gn 4.4).

Por outro lado, a religião de Caim era apenas formalismo e Deus não se agradou (Gn 4.5, Jd 11). A inveja de Caim o conduziu à ira e por fim, ao assassinato. (Gn 4.5,8).

João também deixa claro que quem ama de fato, será perseguido assim como aconteceu como Abel e com Cristo. Por isso, o cristão não pode estranhar se for perseguido por causa de sua fé. 

Qual seria a relevância de tais palavras para os cristãos nos dias de hoje? Apontamos algumas. São elas:

1.1 Há sério problema no sentido de relativizar o amor. Em outras palavras, isso quer dizer que há pessoas que amam apenas aqueles que demonstram amor por elas. No entanto, Jesus adverte: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?” (Mt 5.44,46). Sendo assim, amor não é opcional, não é relativo no sentido de amar apenas os que nos amam. Amar é antes, uma ordem.

1.2. Qual é nossa reação diante de uma pessoa realmente piedosa? Nós a admiramos e desejamos ser como ela ou nutrimos antipatia e a rotulamos como “crentona”? Esse tipo de atitude é manifestação de ódio contra os justos e Caim trilhou por um caminho semelhante.

1.3. Qual tem sido nossa relação com o mundo? Temos feito diferença e até mesmo enfrentado retaliações por causa de nossas boas obras ou temos sido moldados por esse sistema corrompido? Temos sido amados ou odiados porque amamos ou temos sido amados porque fazemos o que o mundo faz? 


2. Quem não ama está morto (v. 14). 
“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte”.

João mostra que os cristãos passaram da morte para a vida, ou seja, por causa da fé em Cristo deixaram a condição de condenados à morte e passaram a desfrutar da vida.

Uma das evidências dessa nova condição é a demonstração de amor ao próximo. Logo, quem não ama, não converteu, portanto, está morto, nas trevas. 

Estar nas trevas é mesmo que não ter a verdade (1.6), não saber para onde vai (2.11), ser mentiroso (2.4) e ser do diabo (3.8). Resumindo, e está morto espiritualmente e caminhando em direção à morte eterna. 

Essas palavras de João mostram o quão grave é a falta de amor com o próximo. A falta do amor significa morte. Tendo isso em mente, devemos pensar nos seguintes aspectos. 

Rejeitar o mandamento do amor é evidência de que houve rejeição para com o amor de Cristo. Quem rejeita o amor de Cristo está impossibilitado de amar. E não amar o próximo é ser como um zumbi. É andar como se estivesse vivo, mas na verdade está morto. 

Não praticar o amor é andar na escuridão em direção a um grande abismo. Não possível perceber a profundidade nem a proximidade desse abismo. Mas ele pode estar muito perto e o final da caminhada em direção a ele pode estar chegando ao fim. 

Há uma música que diz: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Portanto, como escreveu Paulo: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5.4).

3. Quem não ama é assassino (v. 15,16). 
“Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si. Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos”.

João amplia as implicações da falta de amor. Quem não ama é o mesmo que cometer assassinato. Para mostrar isso, o apóstolo relaciona a falta de amor com Caim.

O ódio de Caim pelo seu irmão acabou no assassinato. A idéia é: “O que odeia é um assassino em potencial” (Augustus Nicodemus). Esaú odiou seu irmão, Jacó e planejou sua morte (Gn 27.41). 

E Jesus deixa claro que aquele que matar está sujeito a julgamento. Ele ainda acrescenta que aquele que quem insultar seu irmão e lhe chamar de tolo está sujeito ao inferno (Mt 5.21,22). Outro ponto colocado por João é que Caim nunca se arrependeu do assassinato.

Por isso, ele se tornou o símbolo dos perdidos por odiarem o próximo e não se arrependerem. Sendo assim, não amar e não se arrepender disso equivale ao crime de assassinato.

O v. 16 demonstra o efeito contrário do ódio. Se o ódio leva uma pessoa matar outra, o amor, por sua vez, faz com que uma pessoa morra no lugar de seu próximo, tal como fez Jesus. 

Essas palavras nos conduzem a uma reflexão séria a respeito de nossas ações. A exemplo do amor, o ódio não é um sentimento, antes, é uma atitude. É assassinato, que por sua vez, é reprovável por Deus. Isso é assustador, no entanto é verdade.

Tenhamos em mente que João está escrevendo para crentes e não para um presídio ou para um ajuntamento de psicopatas. Portanto, não é necessário ser um criminoso ou um doente mental para ser um assassino em potencial, basta odiar o próximo. 

Finalmente, lembremos que ódio é mais do que um sentimento, antes, é a evidência de falta de conversão. É prova cabal de que não houve transformação pelo amor de Deus e assim, não existe possibilidade de amar o próximo, inclusive, os inimigos.

Lembremos que éramos inimigos de Deus, mesmo assim, Ele nos amou e nos reconciliou com Ele por meio de Jesus (2 Cor 5.19).

Conclusão
A ausência do amor é algo sério na vida de uma pessoa. Segundo João, amar constitui-se uma ordem e como tal, deve ser obedecida. Quem não ama está morto e é um assassino. Que Deus em sua graça nos guarde disso e nos ajude amar nosso próximo apesar daquilo que ele seja possa nos fazer.


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