A briga pela foice
Quando chegava ao Instituto Cristão de Castro, em 1943, dias depois, o Sr. Artur Rickli perguntou se eu sabia fazer cabo de foice. Respondi-lhe afirmativamente. Passou-me às mãos um pedaço de madeira bruta e me ordenou:
-"Vá à oficina e me faça este cabo de foice".
Lá me fui para a banca de carpintaria fazer cabo de foice, encabar uma foice nova. Brincadeira! Já contava com mais de 20 anos. Trabalhava na roça. Foice era do meu uso constante. Desbastei o pedaço de madeira. Reduzi o seu tamanho. Usei da plaina e da "grosa", nome que se dá a uma lima grossa. Depois, alisei a madeira. Introduzi-a na foice e fui dar conta da tarefa.
O "sêo Arthur" pegou o instrumento, passou a mão pelo cabo da foice e esbravejou:
-"Então, rapaz, isso é cabo de foice que se apresente? Você achatou a madeira e estragou o cabo!"
Respondi-lhe:
-"Desculpe! Então o Sr. é que não entende da coisa. O que eu acabo de fazer é um cabo de foice como deve ser".
Ele retrucou:
-"O cabo deve ser como um cilindro, redondo, não achatado".
Eu estava saudoso de casa e irritado. Já fui dizendo:
-"E acho que o Sr. não deve levantar a voz comigo. Eu não sou criança e não permito gritaria comigo, nem do meu pai!"
O ambiente subiu de temperatura. A coisa não parou por aí. Os moços com quem ele tratava puseram-se do meu lado. Serenando o ambiente, nós dois chegamos à conclusão: ele estava correto, de acordo com o costume do paranaense. Eu estava correto do ponto de vista do paulista. Até o fim do curso, tornamo-nos bons amigos e chegávamos todos os dias a fazer, juntos, às 22:00 horas, o culto familiar. Tive muitos amigos. Ele foi um dos melhores.
(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)
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