O batismo de Jesus no rio Jordão e o batismo cristão


Resumo
  • O artigo aborda o tema do batismo cristão, que é uma ordenança simbólica que representa a regeneração do pecador pelo Espírito Santo.
  • O autor analisa o batismo de Jesus no rio Jordão e o batismo cristão, e argumenta que eles são diferentes em seu modo e em seu significado. Entre os seus argumentos estão:
  • O batismo de Jesus não foi por imersão, mas por aspersão ou derramamento. O autor mostra como as gravuras mais antigas do seu batismo, datando dos tempos da Igreja primitiva, representam a Jesus em pé no rio Jordão e João Batista a derramar-lhe água sobre a cabeça. Ele também mostra como o elemento água indica a ideia de purificação, e não de enterro
  • O batismo de Jesus teve uma significação diferente do nosso batismo. O autor mostra como o batismo de Jesus foi para cumprir toda a justiça da Lei judaica da antiga dispensação em que João viveu, foi uma unção de Cristo como nosso Sumo Sacerdote que o preparou para o desempenho da sua missão messiânica, missão essa que só a Ele competia e nunca a nós pecadores. 
  • Ele também mostra como o batismo de Jesus não simbolizou a lavação dos pecados do batizando efetuada pelo Espírito Santo, como o nosso simboliza.
É costume dos imersionistas apelar para o exemplo de Cristo que desceu às águas do Jordão para ser batizado, dizendo que nós em tudo devemos imitá-lo. Dão a entender que Jesus foi batizado por imersão, e que assim devemos nós também ser batizados.

No entanto, não é provável que Jesus tenha sido batizado por imersão, pois as gravuras mais antigas do seu batismo, datando dos tempos da Igreja primitiva, representam a Jesus em pé no Rio Jordão e João Batista a derramar-lhe água sobre a cabeça.

O Espírito Santo desceu sobre Ele e a água batismal foi o símbolo dessa descida do Espírito Santo que o ungiu e o preparou para o desempenho da sua missão messiânica.

O batismo de Jesus no Rio Jordão teve, portanto, uma significação diferente do nosso batismo. O batismo de João não era ainda o batismo cristão que foi instituído mais tarde por Jesus, mas era antes um rito judaico a que Jesus se sujeitou para cumprir toda a justiça da Lei.

João pertencia à velha dispensação da Lei e não à nova dispensação do Espírito Santo, que Jesus viera inaugurar. É por isso mesmo que Jesus diz dele:

"Entre os nascidos de mulher não há nenhum maior do que João; mas o que é menor no reino de Deus, é maior do que ele" (Lucas 7:28).

O sentido evidente dessas palavras é que o crente mais pequenino na nova dispensação do reino de Deus, que Jesus viera estabelecer, seria mais privilegiado e mais feliz do que o maior profeta da antiga dispensação da Lei.

João não chegou a conhecer a obra completa de Jesus; não chegou a ter conhecimento da sua morte expiatória, da sua ressurreição gloriosa e do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes. João viveu e morreu na velha dispensação e não teve o privilegio de fazer parte nova inaugurada no dia de Pentecostes.

Apesar de ser o maior entre os nascidos de mulher, até a data em que Jesus o elogiou, a sua bem-aventurança seria excedida por aquela do crente mais humilde que tivesse a ventura excelsa de conhecer a obra perfeita de Jesus, completada pela sua ressurreição e pela descida do Espírito Santo que prometera.

Ademais, o batismo de Jesus e no Rio Jordão, quanto ao seu desígnio, não pode servir de exemplo para nós, porque tinha uma significação diferente do nosso batismo.



O batismo de Jesus foi para cumprir por nós a justiça da Lei judaica da antiga dispensação em que João viveu, foi uma unção de Cristo como nosso Sumo Sacerdote que o preparou para o desempenho da sua missão messiânica, missão essa que só a Ele competia e nunca a nós pecadores.

Jesus nenhum pecado tinha; era inocente e imaculado. Não podia, portanto, o seu batismo simbolizar a lavação dos pecados do batizando efetuada pelo Espírito Santo, como o nosso simboliza.

Nós não podemos imitar a Jesus no desempenho da sua missão messiânica e somos pecadores que necessitamos que os nossos pecados sejam purificados pelo poder regenerador do Espírito Santo.

Por esses motivos o batismo de Jesus não serve de exemplo para nós.

O próprio Jesus viveu na dispensação velha do judaísmo e sujeitou-se aos seus ritos, cumprindo toda a Lei. Ele foi circuncidado, tomava parte na celebração da Páscoa e guardava o sábado e outros ritos judaicos.

Nesses particulares não devemos seguir o exemplo de Jesus, pois tendo Ele cumprido toda a Lei por nós, não estamos nós mais sujeitos a essa velha Lei judaica.

O batismo de João é sempre contrastado, no Novo Testamento, com o batismo do Espírito Santo do qual o batismo cristão se tornou o símbolo.

O batismo cristão foi instituído por Jesus, quando deu as suas últimas instruções aos discípulos e isso foi depois da instituição da santa ceia. Esses dois sacramentos começaram a ser administrados com o advento da nova dispensação, no dia de Pentecostes.

O batismo cristão, símbolo do batismo do Espírito Santo, foi instituído por Jesus quando disse:

"Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19).

O que acabamos de expor tem a sua confirmação cabal no que se deu com alguns crentes em Éfeso, que não conheciam outro batismo senão o de João (Atos 19:1-7).

 Eles haviam sido doutrinados por Apolo que era "fervoroso de Espírito" e que falava e ensinava com precisão as coisas concernentes a Jesus, apesar de conhecer somente o batismo de João (Atos 18:25).

Apolo não conhecia a obra completa de Jesus que tivera a sua fruição perfeita no derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Devido a essas instruções incompletas, os cristãos de Éfeso não tinham ainda recebido o Espírito Santo e nem mesmo sabiam que o Espírito Santo havia sido dado.

Paulo perguntou-lhes com que batismo haviam sido batizados. Responderam: "Com o batismo de João".

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Então Paulo lhes fez a seguinte explicação: "João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que havia de vir depois dele, isto é, em Jesus". Em seguida, esses crentes de Éfeso, esclarecidos pela explicação de Paulo, receberam o batismo cristão e ficaram cheios do Espírito Santo.

De todos esses fatos podemos concluir que aqueles que derivam o seu batismo do batismo de João Batista estão observando um rito judaico diferente do batismo cristão e nesse particular pertencem ainda ao antigo regime da Lei e não à dispensação da graça inaugurada por Jesus.

Nosso Senhor Jesus Cristo, como Ele mesmo afirma, foi batizado por João “para cumprir toda a justiça" (Mateus 3:15). Jesus veio cumprir toda a Lei, como se vê de Mateus 5:17 e 18.

A justiça de que se trata é a justiça da Lei. No seu batismo Jesus satisfez as exigências da Lei mosaica para a ordenação de sacerdotes e para a separação dos levitas (Êxodo 29: 7,21; Levítico 8:12; Números 8:7).

Os sacerdotes eram ungidos com óleo típico do Espírito Santo. Jesus foi ungido pelo próprio Pai com o Espírito Santo, por ocasião do seu batismo. Jesus é o nosso Sumo Sacerdote e foi ungido para pregar o evangelho aos pobres (Lucas 4:16-21).

Os levitas eram iniciados no seu ministério, quando tinham trinta anos de idade. Foi justamente nessa idade que Jesus foi consagrado ao seu ministério pelo Batista.

O aspergimento com água fazia parte da iniciação dos levitas (Números 8:7), Acreditamos, pois, que tenha sido esse o modo do batismo de Jesus, isto é, um aspergimento ou uma afusão.

Em vista de todos os fatos, o batismo de Jesus por João não serve de exemplo para a nossa imitação, relativamente à sua significação, mas tão somente com referencia ao modo de praticá-lo. Ele se submetia a um rito judaico que o consagrava ao seu ministério.

Mas nós, pobres pecadores que somos, não somos sacerdotes como foi Jesus. Nós não podemos imitar a Jesus na sua missão sacerdotal de único mediador entre nós e Deus.

Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o batismo cristão quando disse: "Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho e batizai".

De capital importância para a determinação do modo do batismo é o significado da palavra batizar empregada por Jesus quando deu o seu último mandamento. Dizendo: "batizai", determinou Jesus o modo de se praticar o rito?

Acreditamos com o dr. Charles Hodge que o verbo grego baptizo pertence àquela classe de palavras que indicam um efeito para se produzir, sem exprimir o modo pelo qual se produz esse efeito. Nesse respeito é análogo ao verbo banhar-se.

Uma pessoa pode banhar-se de diferentes modos: jogando água no corpo, imergindo-o, aspergindo-o, derramando-lhe água ou esfregando-o com um pano molhado ou uma esponja e há banhos de chuveiro, de duchas, de vapor etc. Quando se consegue o efeito desejado de tornar limpo o corpo, o modo de aplicar a água é indiferente.

A palavra baptizar, no seu sentido religioso, como muito bem prova o dr. Fairfield, nas suas "Cartas sobre o batismo", significa purificar cerimonialmente com água, mas a palavra não indica o modo de fazer a purificação.

Qualquer modo de aplicar a água ao batizando significaria a purificação. Havemos de mostrar, em estudos subsequentes a este, que a palavra baptizo não tem o sentido exclusivo de imergir e que o batismo cristão pode ser feito de outros modos, sem importar isso em uma desobediência ao mandamento de Jesus.



Queremos tornar bem claro o nosso modo de entender o mandamento de Jesus: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura". Esse ide pode ser obedecido de diversos modos.

Podemos ir a pé, como viajavam Jesus e os seus discípulos, podemos ir a cavalo, no trem, ou de auto ou embarcados em um navio. De qualquer um desses modos estaremos obedecendo o mandamento de Jesus. Acontece o mesmo com o batismo; qualquer que seja o modo empregado, estaremos obedecendo ao mandamento de Jesus.

Por semelhante modo, podemos também pregar o Evangelho de diferentes maneiras. Podemos pregar pela palavra falada no púlpito e nas aulas da escola e podemos pregar pela palavra impressa em livros, folhetos e jornais.

Além disso, podemos pregar pelas nossas conversas e pelo testemunho das nossas vidas. Não há somente um modo de pregar, assim como não há também um só modo de batizar.

Nosso Senhor Jesus Cristo ligava pouca importância ao modo de celebrar ritos e cerimônias. Cogitava mais do Espírito da lei do que da letra e, por isso mesmo, deixou uma certa liberdade para a sua Igreja adotar os métodos de ação e as formas de culto que mais conviessem às necessidades do trabalho.

Com referência ao que acabamos de expor, diz o dr. Robert Hastings Nichols, professor de historia eclesiástica:

"Jesus formou a sociedade dos seus discípulos, convocando-os ao redor de si. Comunicou a essa sociedade, tanto quanto pode, quando estava sobre a terra, a sua própria vida, o seu Espírito e seu ideal. Prometeu continuar a comunicar a sua vida a essa sociedade, a Igreja, até o fim do mundo.

A sua grande dádiva à Igreja, podemos dizer, foi a sua própria pessoa. Nele a Igreja devia encontrar os seus princípios, a sua missão e o seu poder. Deixou a Igreja livre para elaborar, por si mesma, formas de organização e de culto, declarações de fé e métodos de trabalho.

A sua manifesta intenção foi que a vida da sua Igreja, isto é a sua própria vida permanecente nos seus discípulos se expressasse de quaisquer modos externos que parecessem aos seus discípulos os mais adequados para servir o grande fim que se tinha em vista".


Não é, portanto, da índole do cristianismo prescrever formas fixas e rígidas para o ritualismo do seu culto. Deve haver alguma liberdade quanto ao modo de obedecer as ordenanças de Jesus.

Quanto à santa ceia Nosso Senhor Jesus Cristo não prescreveu um ritual que exigisse uma só forma de celebrar essa instituição. Jesus não determinou que participássemos em um só cálice ou em cálices individuais e não disse si devíamos ficar reclinados, sentados, de joelhos ou de pé, quando tomássemos parte na santa ceia.



As igrejas têm liberdade de adotarem o modo que lhes parecer o mais apropriado. Acreditamos que se deu o mesmo com o batismo: Jesus não determinou o modo de se realizá-lo e, por isso, deve haver liberdade quanto ao modo. Tanto um modo como outro é aceito por Deus, com tanto que seja praticado com sinceridade de coração.

Fazem-nos uma grande injustiça aquelas pessoas que julgam estarmos teimosamente desobedecendo a Cristo por não nos sujeitarmos ao batismo por imersão. Não se trata de uma questão de obediência, como querem alguns dos nossos irmãos imersionistas, mas antes da interpretação do mandamento de Jesus. Se estivéssemos convencidos que Jesus ordenou a nossa imersão, de muito bom grado, nos sujeitaríamos a essa cerimônia.

Mas, a nossa convicção sincera é que Jesus não ordenou a nossa imersão e, portanto, não estamos desobedecendo a Cristo quando nos batizamos de outra maneira. Creiam os nossos amados irmãos imersionistas na nossa sinceridade e na nossa lealdade para com Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como nós cremos na sinceridade das convicções deles.

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